segunda-feira, 5 de julho de 2010

O Alasca na visão de Krakauer/Penn/McCandless


Na Natureza Selvagem (Into the Wild)


John Krakauer, o jornalista que escreveu o livro Na Natureza Selvagem, tem o dom de prender o leitor a cada parágrafo. Sua descrição, nem tão minuciosa a ponto de deixar a leitura monótona e nem tão simples a ponto de desconsiderar certas nuances, faz com que a emoção e o interesse cresçam constantemente a cada nova investida do personagem principal, País adentro. A história, por si só, já era assustadora. Com as palavras de Krakauer, a exemplo do que fizera em seu best seller No Ar Rarefeito, fica ainda mais impressionante, deixando o leitor com um frio na espinha em seu final trágico e inconseqüente.


Após a leitura, fica fácil entender porque Sean Penn comprou os direitos do livro e aguardou cerca de 10 anos para filmar a adaptação para o cinema. Penn queria a aprovação total da família McCandless para contar a história de seu filho, Chris McCandless, que sem muitas explicações, largou carro, dinheiro e documentos e foi viver a vida pelas estradas e cidades norte-americanas. Mesmo com formação superior, McCandless preferiu viver de bicos nas mais diversas áreas, sempre para acumular dinheiro suficiente apenas para a próxima aventura. Seu objetivo maior era viver no Alasca, sem pessoas por perto, em perfeita comunhão com a natureza. O que de fato se concretizou por um curto espaço de tempo, pouco antes de sua trágica aventura chegar ao fim. McCandless acreditava que era possível encontrar a felicidade plena sem a necessidade mesquinha do ser humano de consumir bens materiais, supérfluos ou não, e ainda de viver cercado de outras pessoas. Utopia ou não – o personagem chega a uma conclusão quase óbvia ao final, que podemos acompanhar através de seu diário de viagem – McCandless precisou vivenciar seu sonho para entender melhor a vida. Uma história, um livro e um filme belíssimos. Sean Penn consegue extrair de Emile Hirsch – o adolescente sortudo do filme Um Show de Vizinha – uma atuação incrível. Já no final da projeção, Emile estava 18 quilos mais magro, apresentando uma feição assustadora. Um verdadeiro trabalho de mestre. Sem falar na fotografia, tão perfeita quanto as verdadeiras locações por onde Chris passou. Na Natureza Selvagem é um filme memorável, que causa inveja, prazer e comoção. Em outras palavras, um baita nó na garganta.


O filme foi rodado nas mesmas locações percorridas por Chris McCandless, incluindo o ônibus abandonado do final da história. Para ter uma pequena idéia da enorme viagem do rapaz, veja a lista de locações abaixo, de A a Z:


Anchorage, Alaska, USA
Anza-Borrego Desert State Park - 200 Palm Canyon Drive, Borrego Springs, California, USA
Astoria, Oregon, USA
Atlanta, Georgia, USA
Beaverton, Oregon, USA
Black Hills Wild Horse Sanctuary - 12163 Highland Road, Hot Springs, South Dakota, USA
Boulder City, Nevada, USA
Bullhead City, Arizona, USA
Cantwell, Alaska, USA
Cape Disappointment, Washington, USA
Carthage, South Dakota, USA
Cheyenne Studios - 27567 Fantastic Lane, Castaic, California, USA
Copper River, Alaska, USA
Denali National Park, Alaska, USA
El Centro, California, USA
El Golfo de Santa Clara, Sonora, Mexico
Emory University - 954 Gatewood Road, Atlanta, Georgia, USA
Fairbanks, Alaska, USA
George Fox University - 414 N. Meridian Street, Newberg, Oregon, USA
Grand Canyon National Park, Arizona, USA
Healy, Alaska, USA
Hot Springs, South Dakota, USA
Lake Mead, Arizona, USA
Lake Tahoe, California, USA
Las Vegas, Nevada, USA
Laughlin, Nevada, USA
Lee's Ferry, Arizona, USA
Longview Fibre Company - 300 Fibre Way, Longview, Washington, USA
Los Algodones, Baja California, Mexico
Los Angeles, California, USA
Mount Hood, Oregon, USA
Needles, California, USA
Niland, California, USA
Orick Beach, Washington, USA
Page, Arizona, USA
Palm Springs, California, USA
Parker, Arizona, USA
Peach Springs, Arizona, USA
Portland, Oregon, USA
Reed College - 3203 SE Woodstock Boulevard, Portland, Oregon, USA
Reno, Nevada, USA
Salton City, California, USA
Salton Sea, California, USA
Santa Catalina Island, Channel Islands, California, USA
Seattle, Washington, USA
Sisters, Oregon, USA
Slab City, California, USA
South Dakota, USA
Topock, Arizona, USA
Winner, South Dakota, USA
Yuma, Arizona, USA

Penn filmou vários dias no Alasca, na maioria das vezes entre as cidades de Fairbanks e Anchorage, além de algumas outras áreas mais remotas, como a famosa – e perigosa – Stampede Trail, uma trilha aberta na década de 30 para facilitar a extração de minério da região. Nos anos 60, uma empresa de construção, a Yutan Construction, ganhou a licitação de um projeto que deveria melhorar a trilha que levava às minas, dando origem a Stampede Road. Alguns poucos quilômetros de estrada foram criados, mas nunca nenhuma ponte para atravessar os inúmeros rios que cruzam a estrada, foi construída. Abandonada após alguns anos, hoje ela serve apenas para aventureiros que a utilizam para passear de moto, bicicleta ou mesmo a pé, como no caso do jovem McCandless. Inclusive o ônibus abandonado (conhecido hoje como The Magic Bus) que o abrigou por vários dias continua lá, levando anualmente muitos curiosos a percorrer a trilha para conhecê-lo, funcionando quase como um santuário. Não é difícil chegar ao local, mas requer cerca de um dia de caminhadas. E atenção, algumas precauções devem ser tomadas. A melhor delas é entrar em contato com guias turísticos locais, que tem um domínio maior sobre as características da região.


Como chegar: Partindo de Fairbanks, é preciso pegar a Interstate A-4, ou George Parks Highway, que conecta Fairbanks a Anchorage. Há cerca de 2 horas e 50 minutos de carro – ou 170 quilômetros aproximadamente – fica a entrada (a direita) para a Stampede Road, em oposição a entrada para o vilarejo de Lignite, que fica à esquerda. Será possível andar de carro por cerca de 20 km pela Stampede Road. A partir daí, é caminhada mesmo, por mais uns 10 quilômetros;

Melhor época para conhecer: meses de julho e agosto, verão, quando as águas dos rios ainda estão baixas, principalmente do rio Teklanika, aquele que atrapalhou os planos de retorno de Chris McCandless. Provavelmente você não encontrará uma correnteza igual àquela mostrada no filme, mas mesmo assim, o Teklanika ainda pode ser um rio bastante perigoso;

Onde ficar: se não quiser ficar numa cidade grande, como Fairbanks ou Anchorage – o que é mais indicado – a região do Denali National Park e do município de Healy é bem servida por pousadas e hotéis;

Onde se informar: importantíssimo, não tente seguir a trilha sem as devidas precauções. Você vai encontrar todas as informações necessárias na entrada do Denali National Park. Além dos procedimentos corretos para seguir a trilha, os guias provavelmente tentarão tirar a idéia de conhecer a trilha da sua cabeça. Não pelo perigo, mas segundo eles, porque existem trilhas muito mais bonitas no parque – e fora dele – para se conhecer.

OK senhores guias, acreditamos que elas realmente são mais bonitas. Mas em que outra trilha encontraríamos os passos de Sean Penn, Emile Hirsch e do prórpio Chris McCandless?

Ah, tem outro detalhe: a região é habitada por ursos, ok?


Making off
- Nenhum dublê foi usado nas cenas de Emile Hirsch em Na Natureza Selvagem;
- Foram necessárias 4 viagens ao Alasca, em diferentes épocas do ano, para a gravação de cenas, ainda assim, o orçamento de Na Natureza Selvagem foi de apenas US$ 15 milhões;
- A
trilha sonora do filme ficou a cargo de Michael Brook, Kaki King e Eddie Vedder (vocalista do Pearl Jam). Esse trabalho de Eddie Vedder foi seu primeiro álbum solo e obteve nomeação para vários prêmios nas categorias de melhor canção e melhor trilha sonora;
- Concorreu a 2 Oscars, melhor ator coadjuvante e melhor trilha sonora;

Sem comentários:

Enviar um comentário