segunda-feira, 5 de julho de 2010

São Francisco do soberbo Milk, A Voz da Igualdade.


Milk, A Voz da Igualdade (Milk)


Duas frases se destacam quando falamos sobre Milk (filme e personagem), ambas na voz de Sean Penn, seu protagonista. A primeira, ainda no filme, revela “Meu nome é Harvey Milk, e eu vim aqui para recrutar vocês”, dita pelo próprio Harvey Milk, em busca de militantes numa causa importante, o direito de igualdade a todos os homens, independente da cor, raça ou preferência sexual. A frase ficou gravada como marca registrada do ativista, interpretado por um Sean Penn inspiradíssimo, bem lonje da época em que era conhecido como ex-marido da Madonna. Aliás, seus últimos filmes como ator tem lhe proporcionado atuações incríveis, é só conferir filmes como Sobre Meninos e Lobos (Mystic River), de Clint Eastwood, A Grande Ilusão (All the King’s Men), onde interpreta outro homem público, e neste Milk, coroando seu trabalho com um Oscar de melhor ator em 2009. Seu amadurecimento, no entanto, não foi só na frente das câmeras. Em 2007, Sean Penn dirigiu um filme chamado Na Natureza Selvagem (Into the Wild), inspirado em um livro de mesmo nome, um Best-seller do mesmo autor de No Ar Rarefeito, John Krakauer. O filme conta a vida do adolescente Christopher McCandless, que após terminar a faculdade, se livrou de tudo o que possuia, inclusive documentos, e foi viajar pelo mundo. Penn esperou cerca de 10 anos para poder dirigir o filme, após conseguir a aprovação total da família do adolescente. O resultado é um filme maravilhoso, na história, na fotografia e nas interpretações, principalmente de Emile Hirsch, que chegou a emagrecer 18 quilos na fase final do personagem.


Em Milk, a atuação de Penn beira o realismo, que aliás é o tom que predomina no filme. Feito em estilo semi-documental, o filme insere imagens reais da época, além de alternar ângulos e tipos de película (envelhecida, estilo super 8), permitindo que tudo se pareça muito real. Inclusive as interpretações, não só de Penn, como também de Emile Hirsch, praticamente irreconhecível, Josh Brolin, o irmão mais velho de Os Goonies (The Goonies) e James Franco, o filho do Duende Verde em O Homem Aranha (Spider Man). Todos entregam atuações absolutamente humanas, intimistas e extremamente realistas. O filme merecia o Oscar de melhor diretor e melhor filme, pois é uma bela obra, feita para emocionar, sem se apoiar em clichês ou pieguices típicas do gênero. Algumas cenas íntimas entre os casais homossexuais podem chocar os menos avisados, mas são necessárias para dar a vitalidade e verossimilhança ao filme. Caso contrário, não entenderíamos tanta militância, tanta luta em prol de uma simples atitude: direitos iguais a todos os homens. Um belo tributo a um homem que, aos 40 anos, achava que não tinha feito nada que pudesse se orgulhar. Mudou-se de cidade e, conforme ele mesmo previu, não chegou aos 50 anos. Mas o que fez nestes 10 últimos anos deixou orgulhosos milhões de pessoas ao redor do mundo, e não só homossexuais, de quem defendia os direitos. Seus gestos e ações ecoam ainda hoje.


O que nos leva à segunda frase, dita também por Sean Penn, mas desta vez fora do filme, no exato momento em que recebeu o Oscar de melhor ator por seu trabalho em Milk. Penn disse: “Aos que votaram contra o casamento gay, envergonhem-se”. A frase se refere ao momento em que a cidade de São Francisco estava passando na época do lançamento do filme, onde uma nova lei estava para ser aprovada, impedindo que casais do mesmo sexo tivessem uma união protegida por lei. Esta prática era permitida até então, e diante deste fato, podemos ver que a realidade vivida por Milk nos anos 70 e 80, não é tão diferente do que estamos presenciando hoje. Harvey Milk morreu como um mártir de uma luta em favor das minorias. Mas sua presença hoje parece se fazer mais necessária do que nunca. É a constante hiprocrisia que parece fazer parte da epiderme do ser humano.


Milk, A Voz da Igualdade não é só um excelente retrato de uma época de militância gay que veio garantir muitos dos direitos dos homossexuais no País inteiro, mas conta também uma parte importante da história da cidade de São Francisco. Podemos claramente acompanhar a formação da comunidade gay na cidade, que ocupou de forma intensa e sistêmica a Castro Street. E é nesta rua, complementada pela Market Street, que acontece a maioria das passeatas e protestos, inclusive a emocionante passeata final, com milhares de pessoas marchando com velas acesas nas mãos. O apartamento de Milk – verdadeiro e no filme – ficava na Lower Haigh Street, e de seu oponente Dan White ficava no Excelsior District. Ainda podemos ver no filme o prédio da prefeitura da cidade, a City Hall, na 1 Dr. Carlton B. Goodlett Place, que aparece num discurso que Milk dá para milhares de ativistas, além do Federal Building, número 55 UN Plaza. Neste prédio, foram feitas algumas internas para representar a City Hall e também as salas de reunião dos membros do conselho municipal, do qual Harvey foi eleito.


Um parque que podemos ver no filme, e que vale uma visita por nos brindar com uma belíssima vista da cidade, é o Duboce Park, na região de Duboce Triangle e Lower Haighs. Na extremidade oeste do parque fica o Harvey Milk Recreational Arts Building, número 50 da Scott Street, centro que mantém aulas de música e danças, exposições fotográficas e demais demostrações artísticas. Um ótimo local para rever partes da história deste nobre homem.

E sim, como qualquer filme ambientado na cidade de São Francisco, a ponte mais famosa do mundo está lá. A Golden Gate figura várias vezes na história, inclusive com imagens da década de 70.


Making off:
- Ganhou 2 Oscars, nas categorias de Melhor Ator (Sean Penn) e Melhor Roteiro Original. Foi ainda indicado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Josh Brolin), Melhor Edição, Melhor Figurino e Melhor Trilha Sonora;
- A transformação sofrida por Sean Penn para interpretar Harvey Milk incluiu o uso de dentes e nariz protéticos, lentes de contato e um novo visual de cabelo;
- O apartamento usado para as filmagens foi o local onde Harvey Milk viveu em San Francisco;
- O orçamento de Milk - A Voz da Igualdade foi de US$ 15 milhões;
- Por 15 anos o diretor Gus Van Sant tentou realizar a cinebiografia de Harvey Milk. Ao longo deste período vários atores estiveram cotados para o personagem principal, como Robin Williams, Richard Gere, Daniel Day-Lewis e James Woods.

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