sexta-feira, 25 de junho de 2010

Doce Novembro - São Francisco no romance de Keanu Reeves e Sharlize Theron


Doce Novembro (Sweet November)


Filmes classificados como romance dificilmente conseguem arrancar elogios da crítica. Normalmente recebem uma classificação mediana, sem elogios em excesso ou críticas comprometedoras. Ganham uma nota 6, ou 5, dependendo do humor do crítico. E o que isso signfica? Basicamente nada. O principal motivo para este posicionamento talvez seja o excesso de clichês e a tendência para o drama forçado que muitos romances demonstram. Tais filmes envolvem, em sua maioria, romances proibidos, amantes que são separados pelo destino, doentes terminais tentando aproveitar seus últimos suspiros ou ainda protagonistas que se odeiam no início só para descobrir, já no final, que sempre se amavam. Ou seja, inverossímel e previsível. Ou, em palavras mais objetivas, totalmente diferentes da vida real, imprevisível e extremamente normal.


Ora, sem discriminar os filmes carregados em tintas realistas, bastante comuns hoje em dia, de vida real já basta a nossa. Então, jogue o preconceito no lixo, ponha a caixinha de lenços de papel debaixo dos braços e aproveite essas histórias carregadas de sentimentalismo, feitas para se apaixonar, rir e chorar. Assista Doce Novembro como se tivesse acabado de se apaixonar. Aliás, essa é a melhor dica que posso dar quando estiver assistindo um filme de romance. Imagine-se nos primeiros dias de namoro, nos primeiros beijos, na palpitação a cada encontro e nos telefonemas longos e sem assunto. Após esta pequena fase, se o relacionamento durar, encontramos o verdadeiro amor. Mas este amor, se não for devidamente cultivado e vivido com paixão, pode acabar. Pode parecer simples, didático até, mas a dinâmica é mais ou menos essa. E quando paramos para analisar, não entendemos o que é essa paixão, esse romance, essas situações clichê que tanto vemos no cinema. Preferimos então filmes com tons realistas e histórias pautadas no verossímil. Pare, pense e reflita. Será melhor para entender Doce Novembro e outros tantos romances hollywoodianos. Será melhor para sua vida.


Sem entregar a história do filme, basta dizer que Doce Novembro é um típico romance, com uma (ou várias) daquelas características mencionadas anteriormente. Não foge do clichê, mas também não tem pretensões maiores se não entreter e fazer emocionar. Tem boas doses de seriedade, paixão e drama. Poderia provocar um pouco mais de risadas, que sempre nos aproxima mais dos personagens, mas tem o tom certo para a história que conta. Keanu Reeves é sempre Keanu Reeves. Charlize Theron ilumina cada cena, e os coadjuvantes entram na hora certa. Entre eles, Jason Isaacs, o vilão de O Patriota (The Patriot), com Mel Gibson, num papel diferente, por assim dizer. A história é simples, sem novidades, mas o final traz um pouco do realismo que muitos críticos gostam. Um bom programa para extrair aquela paixão que existe dentro de cada um, e tirar da rotina a vida de todos nós. Pelo menos por algumas horas.


Algumas locações de Doce Novembro merecem destaque, entre elas, o parque onde vemos o casal caminhando, acompanhando os trilhos de um bondinho, supostamente perto da casa de Sara. Trata-se do Dolores Park, ou Mission Dolores Park, ou ainda Mission Park. Fica no Distrito de Mission, numa região conhecida como Dolores Heights. Portanto, bem longe da casa de Sara, que fica em Potrero Hill, na esquina da Missouri Street com a 18th Street. Tem uma vista belíssima da cidade, local para caminhadas, quadras de esportes e locais para passear com cachorros. Por isso, é bastante frequentado por moradores da cidade, e não é muito conhecido por turistas. A passarela que liga a rua ao parque, e que vemos na cena final do filme, fica na esquina da 19th Street com a Church Street. Mas a estufa que vemos de fundo não existe por lá. Ela foi construida para o filme apenas para esconder uma estátuta que existe por lá. Deve ser uma estátua um tanto esquisita...


Que tal um café onde a dupla central da história, mais o moleque vizinho de Sara, dividem uma mesa quando o amigo de Nelson entra e os encontra sem querer? É o Farley’s Café, número 1315 da 18th Street, também em Potrero Hill. Se preferir um lugar mais chique, opte pelo Citicourt Café, dentro do Citicourt Center, número 1 da Sansome Street, bem no centro da cidade. E se sair para um drik, aproveite para tomar uma cervejinha no Blooms Saloon, número 1318 da 18th Street, local onde Nelson conversa com o amigo de Sara, após um incidente revelador, e também onde vemos Nelson cantando para Sara, mais para o final do filme. Um último passeio pelos sets de filmagem de Doce Novembro é uma caminhada pela Golden Gate Promenade e a Crissy Field Beach, na região de Presidio, com a impressionante ponte de fundo, sempre compondo um visual único. No filme, este lugar foi usado para filmar a caminhada da dupla, bem acompanhados por cerca de meia dúzia de enormes poodles brancos. Esqueça os poodles e aproveite o visual.


Making off:
- Esta é a segunda vez em que os atores Keanu Reeves e Charlize Theron atuam juntos. Anteriormente eles já haviam trabalhado em O Advogado do Diabo;
- Doce Novembro é a refilmagem de Por Toda a Minha Vida, lançado em 1968;
- Recebeu 3 indicações ao Framboesa de Ouro, nas seguintes categorias: Pior Ator (Keanu Reeves), Pior Atriz (Charlize Theron) e Pior Remake ou Sequência.

A Florida de Jim Carrey - O Show de Truman


O Show de Truman, O Show da Vida


O Show de Truman não é um filme, é uma previsão. Juntamente com EdTV, de Ron Howard, constitui a bola de cristal mais precisa já vista. Explico. Os dois filmes em questão falam de um fenômeno absurdo que ocorre nas mídias televisivas de todo mundo. E se existir vida fora da Terra, e lá funcionar um canal de TV, o programa de maior audiência será um reality show. O Show de Truman leva este fenômeno ao extremo, onde a vida inteira de Truman Burbank, desde seu nascimento, é televisionada 24 horas por dia. E ele não sabe. Todos ao seu redor são extras, inclusive sua esposa. A cidade onde mora é na verdade um estúdio que é abrigado sob uma gigante redoma que pode ser vista do espaço.


Exageros a parte, o intrigante filme de Peter Weir relata de uma forma incrível a necessidade da humanidade em se meter na vida dos outros. Foi lançado em 1998, quando os reality shows ainda não estavam tão em voga quanto hoje, por isso, dividiu opiniões. A crítica adorou e o público não entendeu muito bem, reclamando do final. Se estivesse nos cinemas hoje, e não disputasse o horário com um episódio do Big Brother, faria muito mais barulho.


O mais incrível é que, excetuando-se algumas “maquiagens” feitas com computação gráfica, a cidade onde Truman morava realmente existe. O lugar se chama Seaside, e fica a alguns quilometros de Panama City, em direção a Fort Walton Beach, bem no lado oeste da Florida. Um pouco fora de mão do roteiro Miami e Orlando, mas a visita é espetacular. O lugar é um resort planejado, e as casas que aparecem no filme estão todas lá. Inclusive a casa de Truman, hoje carinhosamente identificada como “The Truman house”, número 31 da Natchez Street, Seaside, bem a oeste da cidade, perto do Narchez Park. Ainda estão lá as ruas de piso avermelhado e a rotatória que podemos ver numa cena antológica envolvendo a desconfiança de Truman com sua vida “perfeita”. E só para tranquilizar, a cidade não é um estúdio inteiramente construido sob uma redoma gigantesca. É um lugar que se tornou mágico graças ao cinema.

Adriannnn - A Filadélfia de Rocky, um Lutador


Rocky, um Lutador (Rocky)


Vendo Sylvester Stallone hoje, procurando por sets na America do Sul para um filme previamente intitulado de Os Mercenários (!), co-estrelado por Dolph Lundgreen(!), fica difícil de imaginar que o roteiro de Rocky é de sua autoria. E escrito em apenas 3 dias. E ainda, que o filme ganhou 3 Oscars. Aliás, Oscar e Stallone não soam muito bem numa mesma sentença. Mas foi exatamente isto que aconteceu. Stallone escreveu e atuou neste filme que arrematou 3 Oscars, nas categorias de melhor filme, direção e edição. Ganhando inclusive de Taxi Driver, de Martin Scorsese. Como visto, não é de hoje que a Academia teima em surpreender nas premiações.


Mas Rocky, um Lutador é um bom filme. Um drama que tem como pano de fundo o boxe. Uma verdadeira epopéia sobre a superação, a persistência e o amor. Difícil não se comover com os gritos de Stallone ao final, chamando por sua esposa Adrian, vivida por Talia Shire, irmã de Francis Ford Coppola. O diretor, o mesmo de Karate Kid, outro filme envolvendo superação e persistência, caprichou na emoção, e Stallone, quem diria, parece ter nascido para dar vida a Rocky Balboa. Ele quase perdeu o papel, pois o estúdio não o queria como protagonista. Mas ele bateu o pé, e acabou enfiando o mesmo numa série que viria a marcar sua carreira. O filme teve 5 continuações, quase todas medíocres, com excessão da última, Rocky Balboa, a redenção de Stallone. Este último filme colocou na tela não mais um Rocky Balboa em busca de uma última luta, e sim um Sylvester Stallone em busca de aceitação pelo que ele é, e pelo que fez. Fechou de uma maneira sublime a carreira de Rocky Balboa, e teria fechado com chave de ouro a sua, se tivesse parado por aí. Infelizmente, perdeu a oportunidade de se tornar um ícone. Ao invés disso, continuou na luta, literalmente, dessa vez revivendo o museu da guerra fria, Rambo. O ator não entendeu o recado, e ao invés de parar, levou essa história de trazer fantasmas do passado a tona muito seriamente. Rambo não tem o conteúdo e a história de um Rocky Balboa, personagem e filme, o que acabou tornando o quarto episódio uma bobagem homérica, cheia de violência e, bem, mais violência. Bobagem tão grande quanto procurar sets na America do Sul para um filme de nome Os Mercenários, em parceria com Dolph Lundgren. Essa sentença, infelizmente, combina mais com Stallone.


Enquanto aguardamos o astro se afundar de uma vez em seu final de carreira, vamos reviver os passos do lutador de boxe pobretão em busca de seu sonho. E a primeira parada não poderia ser outra, as escadarias do Philadelphia Museum of Art, 26th Street, Benjamin Franklin Parkway. Aqui fica claro, a força extraordinária que o cinema tem. Se um filme vira um sucesso, e neste caso, praticamente um clássico, as locações onde este filme foi feito viram pontos turísticos conhecidos e visitados frequentemente. É o caso destes simpels degraus, responsáveis por conduzir o visitante às portas do museu, mas que ficaram incrivelmente mais famosos que o próprio museu. Hoje, quando estamos na Filadélfia, não vamos visitar o Museu de Arte da cidade, e sim as escadarias onde Sylvester “Rocky Balboa” Stallone treinava. Uma vez por lá, claro, por que não entrar e ver umas obras de arte? Até porque, ali dentro foram filmadas cenas de Vestida para Matar (Dressed to Kill), de Brian de Palma. Neste filme, o Philadelphia Museum of Art foi escolhido para representar o Metropolitan Museum of art de Nova York, onde a história é ambientada.


O prédio onde fica o apartamento de Rocky, simples e bem ao estilo londrino, fica no número 1818 East Tusculum Street, Kensington, no norte da cidade. Novamente, é uma residência particular, leia-se: não perturbe. No seu treino, Rocky corre bastante, passando em frente a City Hall (prefeitura) na 1 Penn Square, 1450 da John F. Kennedy Boulevard, e o Italian Market, na 9th Street, entre a Federal e a Christian Street. Neste mercado podemos encontrar lojas, padarias, restaurantes, cafés, açougues, em sua maioria, de influência Italiana. Nos últimos anos, o mercado tem comportado também lojas e restaurantes de origem Mexicana, Coreana e Chinesa, devido a invasão desta cultura na região através de seus moradores. Continua sendo um bom passeio, principalmente se coincindir com o Italian Market Festival, que ocorre anualmente em meados de maio. Música, diversão e muita comida.


E para terminar em grande estilo (talvez nem tão grande assim), que tal um almoço no Pat’s King of Steaks, número 1237 da East Passyunk Avenue. Segundo os moradores, desde 1930 este restaurante serve o melhor cheese steak da cidade. Na verdade, esta comida é praticamente uma instituição na Filadélfia, e cada morador tem seu local preferido. O que é um cheese steak? Nada mais que um sanduíche de filé, normalmente em pão italiano, coberto de queijo. As variações e os acompanhamentos é que irão definir os melhores locais. No Pat’s King of Steaks, existe uma placa indicativa de como pedir o seu cheese steak, escrita por um tal de I.M. Hungry (ou, em bom português, Estou com Fome). A placa é na verdade um roteiro, descrito na forma de passos, que seguem mais ou menos assim:


Passo 1
Especifique se você quer o seu prato com ou sem cebolas
(se não for um novato, esta etapa é natural para você)
Passo 2
Especifique o tipo de queijo, conforme a relação
Passo 3
Tenha em mãos seu dinheiro, se necessário, faça sua vaquinha ainda na fila
Passo 4
Pratique os passos anteriores enquanto está na fila
Se você errar no pedido, não entre em pânico, apenas vá para o final da fila e pratique tudo novamente.


Making off:
- Stallone recebeu 8 indicações ao Framboesa de Ouro de Pior Roteiro, por "Rhinestone - Um Brilho na Noite" (1984), "Rocky IV" (1985), "Rambo II" (1985), "Stallone Cobra" (1986), "Rambo III" (1988), "Rocky V" (1990), "Risco Total" (1993) e "Alta Velocidade" (2001). Venceu por "Rambo II", ao mesmo tempo em que foi o 3º a ser indicado como ator e roteirista em um mesmo ano do Oscar. Apenas Charles Chaplin, por "O Grande Ditador", e Orson Welles, por "Cidadão Kane", haviam conseguido este feito. Vai entender...
- Ao término do filme, Rocky, Um Lutador custou no total US$ 1,1 milhão. Dinheiro arrecadado com a hipoteca das casas dos produtores. A bilheteria do filme, apenas nos Estados Unidos, foi de US$ 117,23 milhões;
- o cachorro que aparece no filme, Butkus, realmente pertencia a Stallone na época.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A Londres séria e marcante de Closer, Perto Demais


Closer, Perto Demais (Closer)


Com um currículo tão eclético quanto respeitável, incluindo obras memoráveis como A Primeira Noite de Um Homem (The Graduate) e Uma Secretária de Futuro (Working Girl), e outras nem tanto, como o esquisito Lobo (Wolf), com Jack Nicholson, e o mediano A Gaiola das Loucas (The Birdcage), Nichols fez de Closer, Perto Demais, um de seus melhores filmes. Se não o melhor, pelo menos o mais intimista, graças principalmente ao incrível roteiro de Patrick Marber, também autor da peça na qual o filme é inspirado. O enredo, que gira em torno de apenas quatro personagens, flerta com assuntos sérios com um charme nunca antes visto. Intimidade, infidelidade, honestidade, verdades e mentiras se misturam a interpretações magistrais de um quarteto afinadíssimo. Julia Roberts, Jude Law, Clive Owen e especialmente Natalie Portman dão um show de realismo e siceridade, que em certos momentos, deixa o espectador envergonhado diante de situações bastante íntimas exploradas a exaustão pelas lentes de Nichols. Em certos momentos, torcemos por um grito de “corta” do diretor. Ao invés disso, a cena é estendida ao máximo, apenas para desnudar os sentimentos de cada personagem. É adulto, sério e emocionante. E de brinde, o filme ainda traz uma trilha sonora impecável – tão eclética quanto o currículo do diretor – que inclui canções da brasileiríssima Bebel Gilberto. No entanto, o disco é dominado pela música que não saiu da boca do povo ao redor do mundo, a melancólica “The Blower's Daughter”, de Damien Rice, regravada em várias línguas, inclusive o português, com as vozes de Ana Carolina, Seu Jorge e Simone, intitulada “É isso aí”. Piegas ao extremo, mas na medida para as histórias contadas na tela.


Closer nasceu nos palcos da Inglaterra, e nada mais justo que, ao transpor essa difícil história sobre relacionamentos modernos para a tela grande, fosse mantida a atmosfera londrina, sóbria e muitas vezes fria, como palco para o desenvolvimento da trama. Londres e Closer são indissociáveis. Estão lá a frieza e a assepsia do London Aquarium (piso térreo da County Hall, Westminster Bridge Road, próximo a London Eye) e a efervescência cultural e turística das Margens do Rio Thames, principalmente na região conhecida como South Banks, que proporciona vistas incríveis de cartões postais da cidade, como o Tate Modern, British Airways London Eye, National Film Theatre e a Millennium Bridge. Ainda, na cena da exposição de fotos da personagem de Julia Roberts, o incrível átrio central de um imenso prédio que vemos na tela é o interior da Whiteleys, a primeira loja de departamentos de Londres, e que hoje abriga um moderno e luxuoso shopping Center. A Whiteleys fica na Queensway, bem pertinho da extremidade noroeste do Hyde Park. E por último, uma cena famosa, quando as personagens de Natalie Portman e Jude Law se encontram e se apaixonam, foi gravada no Postman’s Park, um belíssimo parque público da cidade. Ali, bem em frente ao Memorial to Heroic Self Sacrifice, um memorial dedicado a pessoas comuns que perderam suas vidas salvando outras, foi filmada a cena em questão. O Postman’s Park fica na Little Brittain, City of London, há apenas 300 metros no sentido norte da St. Pauls Cathedral. E o Memorial to Heroic Self Sacrifice tem uma história bastante interessante.


Making off:
- Natalie Portman pediu a Mike Nichols que retirasse da versão final de Closer - Perto Demais uma cena sua de nudez. O diretor atendeu ao pedido;
- Clive Owen interpretou o personagem Dan – vivido no filme por Jude Law – na montagem da peça nos teatros de Londres;
- Cate Blanchett chegou a assinar contrato para interpretar Anna, mas teve que desistir da personagem devido à sua 2ª gravidez;
- Recebeu 2 indicações ao Oscar, nas seguintes categorias: Melhor Ator Coadjuvante (Clive Owen) e Melhor Atriz Coadjuvante (Natalie Portman);
- Ganhou 2 Globos de Ouro, nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (Clive Owen) e Melhor Atriz Coadjuvante (Natalie Portman). Recebeu ainda outras 3 indicações, nas seguintes categorias: Melhor Filme - Drama, Melhor Diretor e Melhor Roteiro;- a personagem de Natalie Portman tem um codnome, Alice Ayres. Este é um dos nomes que estão gravados nos azulejos do Memorial to Heroic Self Sacrifice.


Bônus

Uma visita ao incrível Memorial to Heroic Self Sacrifice, ou apenas, Wall of Heroes.

Atualmente, com um mundo altamente globalizado e conectado, onde as informações correm na velocidade da luz e praticamente toda a população tem em mãos uma pequena câmera de vídeo em seu aparelho celular, é cada vez mais fácil vermos imagens de gente comum arriscando a própria vida na tentativa de salvar a do próximo. Muitas vezes até sucumbe em meio ao ato heróico. Pessoas que são levadas pelas correntezas de uma enchente, desaparecem em meio a escombros de edifícios que desabaram ou mesmo tentando impedir atos terroristas, como no caso da tragédia do Vôo United 93, retratada no incrível filme de Paul Greengrass, já comentado aqui. Seus nomes, graças a essa tecnologia encontrada hoje, são lembrados por dias em jornais, revistas e até mesmo na televisão. Suas vidas se vão, mas para os familiares que ficam, essa lembrança – e de certa forma homenagem – serve para acalmar os corações vazios e em sofrimento, ainda que por apenas alguns breves momentos.
Pensando desta maneira, mas muito antes disso, em 30 de julho de 1900, nascia no centro de Londres, através das mãos calejadas do artista plástico George Frederic Watts, na época com 83 anos, o Memorial to Heroic Self Sacrifice, numa parede do lado de fora de um dos prédios que circundavam o Postman’s Park, devidamente coberta e calçada. Como nos dias de hoje, Watts sentia a necessidade de homenagear aqueles que sacrificavam suas próprias vidas na tentativa de salvar outras, que muitas vezes nem sequer conheciam. Pessoas que, sem este memorial, jamais seriam reconhecidas pela sociedade, desaparecendo do plano terreno e muito provavelmente, esquecidas para sempre.
O memorial fora planejado para abrigar cerca de 120 placas, todas pintadas a mão em azulejos brancos, gravadas com o nome do homenageado, acompanhado de um pequeno resumo de seu ato heróico. Na época de sua inauguração, em 1900, apenas 4 placas haviam sido instaladas. Vislumbrando um alto custo para a colocação de todas as 120 placas, Watts decidiu mudar um pouco a qualidade e o modelo dos azulejos, barateando assim o custo da obra. Até 1902, mais nove placas foram instaladas, e todos os nomes haviam sido selecionados pelo próprio Watts.
Em 1904, George Frederic Watts morre, deixando a conclusão dos trabalhos para o Heroic Self Sacrifice Memorial Committee, um comitê criado alguns anos antes para ajudar no andamento dos trabalhos do memorial, devido aos constantes problemas de saúde do Sr. Watts. No mesmo ano, a esposa de George, Mary Watts decide terminar a obra do marido, levantando fundos do próprio bolso para a colocação de mais 35 placas, com os nomes selecionados da antiga lista criada pelo próprio Watts. Em 1910, Mary Watts comunicou ao comitê que não tinha mais dinheiro para terminar o memorial, pois estava se dedicando a terminar a capela mortuária de George e a Watts Galery, ambas em Compton, Surrey. Ainda faltavam três fileiras de placas para concluir o memorial.
Anos se passaram, e poucas placas eram adicionadas. Na época da morte de Mary Watts, final da década de 30, o memorial estava completamente abandonado, e era totalmente ignorado pela população. Em 2004, Closer, Perto Demais tratou de devolver a dignidade ao Memorial to Heroic Self Sacrifice, filmando uma de suas cenas bem em frente às famosas placas de azulejos do Sr. Watts. Desde então, o local voltou a ser atração turística da cidade, e a partir de 2009, depois da colocação de uma nova placa (de número 54) em nome de Leigh Pitt – 78 anos após a última colocação – um homem de 30 anos que salvou uma criança do afogamento num rio da região, foi decidido que novas placas seriam adicionadas. Agradecemos a força do cinema por devolver o valor a uma obra de arte que nunca deveria ter sido esquecida. Muitos heróis, até então anônimos, terão novamente um lugar na história, e serão lembrados eternamente através de seus atos de coragem e altruísmo.

Mind the Gap - A Londres de Um Lugar Chamado Nothing Hill


Um Lugar Chamado Notting Hill (Notting Hill)


Um ótimo romance, com bastante humor inglês – cortesia do amigo do personagem de Grant, com quem divide um apartamento – e sentimentalismo americano, que não chega a atrapalhar o andamento do filme. Julia Roberts parece estar interpretando a si mesma, e Grant surge mais uma vez como um inglês bobalhão e desajeitado, bem ao estilo Quatro Casamentos e um Funeral, Nove Meses e Um Grande Garoto. Nada de novidade, e sem a força de um Uma Linda Mulher, mas ainda assim bastante divertido e convincente, garantindo boas risadas e situações embaraçantes.


O roteiro passeia – e romatiza – o bairro londrino que dá nome ao filme. Notthing Hill, região centro-oeste da cidade, aparece como uma charmosa e pitoresca vila inglesa, o que de fato ela é. Mas nem sempre foi assim. Notting Hill tem muita história, e merece destaque em nossa viagem. Veja mais adiante.

A famosa livraria do personagem de Hugh Grant, a Travel Book Company, infelizmente não existe. A sua fachada foi forjada no número 142 da Portobello Road, onde hoje fica a loja de móveis Gong. A produção utilizou o interior de outra livraria, a Travel Bookshop, que fica nos números 13-15 da Blenheim Crescent, virando a esquina da Portobello Road. Ali perto também fica (ou ficava) a porta azul que representava a entrada do flat do personagem de Grant. Bom, o flat, obviamente, continua lá. A porta, no entanto, não é mais a mesma. Após o sucesso do filme, o local virou atração turística do bairro. O proprietário, no intuito de acabar com a constante presença de turistas batendo a sua porta – exatamente como os papparazzis faziam no filme – resolveu então trocá-la, leiloando a mesma e revertendo seu lucro a instituições de caridade. A porta agora é preta, mas o endereço ainda é o mesmo, número 280 da Westbourne Park Road. Partindo deste endereço, pegando a Kensington Park Road 300 metros em direção ao sul, chegamos a Lansdowne Road, onde ficava a casa da irmã de Hugh Grant no filme, e onde ocorre um jantar de aniversário hilariante. O endereço exato é o número 91 desta rua. Virando a próxima esquina, temos a rua onde fica a entrada de um jardim particular, e que aparece em outra cena bastante engraçada, onde o personagem de Grant tenta pular o muro que separa o jardim da rua. Trata-se do Rosmead Gardens, na Rosmead Road.


Dicas para reabastecer suas energias: se quiser algo mais sério, chique e representativo financeiramente falando, vá jantar no Nobu, restaurante japonês freqüentado pelo casal principal do filme. Ele fica no Metropolitan Hotel, número 10 da Old Park Lane, perto da extremidade leste do imenso Hyde Park. Ou se preferir algo mais simbólico, por assim dizer, dê uma paradinha no Coffee Republic. Uma de suas lojas fica em Notting Hill mesmo, na esquina da Westbourne Park com a Portobello Road. Na calçada deste exato local, o persogem de Grant esbarra – literalmente – pela primeira vez com a diva Julia Roberts. No filme, o imóvel em questão ainda estava vazio.

Para terminar o passeio por Notting Hill (o filme, não o bairro), dê uma passadinha no cinema onde Grant vê o filme Helix (fictício, claro), estrelado por Julia Roberts, que fica no número 103 da Notting Hill Gate, e se chama Coronet Cinema. E se sobrar tempo, aproveite para conhecer o lindo jardim – da incrível mansão – onde estava sendo filmada uma cena de um novo filme de Roberts, motivo pelo qual a atriz estava na cidade. Trata-se da Kenwood House, na Hampstead Lane, ao norte de Londres. Este antigo casarão guarda obras de arte da antiguidade e tem sua entrada aberta a visitação pública. E o melhor, assim como todos os museus da cidade, sua entrada é gratuita.


Making off:
- Hugh Grant e o diretor Roger Mitchell já haviam trabalhado juntos anteriormente, em Quatro Casamentos e um Funeral;
- No filme, Anna Scott diz que recebeu 15 milhões de dólares pelo seu último papel nocinema. Foi exatamente esta a quantia recebida por Julia Roberts para estrelar Um Lugar Chamado Notting Hill;
- Indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Comédia / Musical, Melhor Ator de Cinema - Comédia / Musical (Hugh Grant) e Melhor Atriz de Cinema - Comédia / Música (Julia Roberts).


Bônus:

Notting Hill, o bairro.

Da área rural, típica do início do século XIX, à Notting Hill atual, com suas casas em estilo vitoriano, ruas arborizadas, parques floridos, feiras semanais e festivais culturais anuais (Notting Hill Carnival), muitas mudanças foram necessárias. Durante a segunda Grande Guerra (sempre ela), o bairro – além de muitas outras cidades inglesas – teve algumas de suas construções abaladas pela famosa Blitz Alemã, um bombardeio contínuo pela Luftwaffe durante setembro de 1940 e maio de 1941. Uma delas, a All Saints Church, foi bombardeada em duas oportunidades, em 41 e 44, e precisou ser restaurada quase por completo.
No anos seguintes ao fim da Guerra, Notting Hill sofreu uma intensa imigração Caribenha, que ocupava sem nenhum critério imensos casarões vitorianos, transformados em verdadeiros pardieiros. Na déca de 50, surgiu um grupo que ficou conhecido como Teddy Boys, que compreendia trabalhadores de classe média, brancos e muitos deles bastante jovens. Seu objetivo era hostilizar as famílias negras que viviam na região, através de atos de vandalismo e violência física, como a sofrida por um casal numa estação de metro da cidade. Em agosto deste ano, uma gangue de jovens brancos atacou verbalmente a sueca Majbritt Morrison e seu marido jamaicano. Na noite seguinte, o casal sofreu severas agressões físicas, dando início ao motin racial de Notting Hill, ou Notting Hill race riots, que durou várias noites, só terminando dia 5 de setembro, com a prisão de mais de 140 pessoas.
Em janeiro de 1959, com o objetivo de acalmar a tensão racial que existia não só no bairro, como em toda Londres, surgia o Notting Hill Carnival, pelas mãos de Claudia Jones, uma moradora da região, originária de Trinidad Tobago. Até 1965, o festival, apesar do relativo sucesso, ainda era organizado em clubes da região. Em 1966, foi levado para as ruas, e seu sucesso só veio a aumentar. Capitaneado principalmente por Caribenhos, o carnaval londrino de Notting Hill se assemelha (com suas devidas proporções) ao carnaval carioca (Brasil), e reúne hoje cerca de 500 mil pessoas anualmente, nos meses de agosto, durante apenas 2 dias de festa. Nada mal para um povo clássico, que se orgulha de sua pontualidade e de sua tradicional pausa para o chá das cinco.
Durante as décadas seguintes, principalmente nos anos 70 e 80, toda a região de Notting Hill foi remodelada e reestruturada até se converter no bairro chique que conhecemos hoje. E além do Notting Hill Carnival, o bairro ainda ostenta uma famosa feira de antiguidades, a Portobello Road Market, que acontece todos os sábados na rua de mesmo nome, e que inclusive aparece em uma cena do filme. Durante alguns dias da semana, esta mesma feira, nesta mesma rua, transforma-se num verdadeiro mercado de frutas e vegetais ao ar livre. Agora sim, uma feira de antiguidades tem muito mais a ver com Londres do que um carnaval de rua. Sem preconceito, claro.

Paris de Julie


2 Dias em Paris (2 Days in Paris)


Delicioso. Esta é a melhor definição para 2 Dias em Paris. Uma comédia romântica moderna, por assim dizer, que tem muito mais a oferecer que apenas uma hora e meia de algumas risadas e um final feliz. Sim, tem um final feliz, mas bastante realista e tocante. Difícil não se identificar com o texto de Delpy, direto e ao mesmo tempo profundo, como são as relação no mundo real. Dúvidas, inseguranças e insatisfações dividem espaço com festas, viagens e trabalho. Tudo muito sóbrio, e ao mesmo tempo poético. Cômico também, seja pelas situações enfrentadas pelo namorado, que não entende nada de francês, seja pela descrição do povo parisiense através de seus motoristas de taxi. Um dá em cima de Delpy mesmo na presença do namorado. Outro prega a violência familiar, e um terceiro, que se envolve numa discussão calorosa com a personagem de Delpy, é racista e preconceituoso. Mas toda essa crítica aos ideais e costumes franceses é rapidamente atenuada quando se observa o comportamento americano em solo francês, principalmente através do personagem de Goldberg, que discrimina turistas americanos que vão a Paris para fazer o “tour Còdigo da Vinci”, ao mesmo tempo que esnoba detalhes e características da cidade, mas faz questão de visitar o túmulo de Jim Morisson, sem mesmo apreciar o The Doors. O filme é assim, bate e apanha ao mesmo tempo. Cortesia, mais uma vez, do texto enxuto de Julie Delpy, que ainda dirigiu e atuou no filme. Original e divertidíssimo.


As locações são obrigatórias. Mesmo as mais mórbidas, como o túmulo de Jim Morrison, que morreu aos 27 anos de idade, em Paris, e foi enterrado no cemitério de Montparnasse, o Pére-Lachaise; e as famosas Catacumbas de Paris, um local fantástico, com pilhas e mais pilhas de ossos humanos espalhados por corredores subterrâneos conhecidos como Lês Carrieres de Paris, de onde foi retirada a maioria das pedras utilizadas na construção das pontes que cruzam o Sena. O casal faz uma breve parada na Pont Bir-Hakeim, a mesma do filme O Último Tango em Paris, e depois pode ser visto numa estação de metro, a Pasteur, que serve as linhas 6 e 12, no XV arrondissement. Você pode descer nesta estação para conhecer a Tour Montparnasse, um edifício de escritórios com 59 andares. O prédio em si é odiado pelos parisienses, por ser um bloco de concreto e vidro escuro que nada tem haver com a arquitetura da cidade. Mas do alto de seus 210 metros temos uma visão ímpar da cidade. Aliás, a única visão tão alta quanto a visão que temos da Torre Eiffel, mas com a vantagem de termos a Torre Eiffel emoldurando o cenário. Imperdível.
Após algumas corridas de Taxi bastante peculiares, acompanhamos o casal num almoço (ou na tentativa de almoçar) num restaurante (não identificado) à beira do Canal St. Martin. Como já foi comentado, passear pelas marges do Canal St. Martin, aos domingos, e apreciar um bom café numa de suas típicas brasseries, é um dos melhores programas para se fazer na cidade Luz. Você vai se sentir como um verdadeiro cidadão de parisiense. Uh lá lá...


Making off
- As filmagens de 2 Dias em Paris consumiram, na verdade, 25 dias, e ocorreram entre 19 de junho e 14 de julho de 2006;
- Julie Delpy já dirigiu 3 filmes. Este 2 Dias em Paris, Looking for Jimmy (sem título em português) e a Condessa.


Bônus

Por que visitar uma pilha de ossos no sub-solo de Paris?

Aproximadamente 400 quilômetros. Esta é a extensão de Lês Carrieres de Paris, ou os subterrâneos de Paris, um sistema de túneis escavados há cerca de 20 metros de profundidade, nas entranhas da cidade Luz. A escavação não tinha como objetivo guardar os ossos dos mortos da cidade. Esse detalhe veio bem depois, no ano de 1785. Os túneis foram escavados apenas para fornecer a matéria-prima para acostrução de boa parte das lindas pontes que cruzam o Sena. Isso mesmo, todas as pedras, lindamente lapidadas e arrumadas nas famosas pontes de Paris, vieram do sub-solo da cidade. Por isso essa imensidão de túneis. Muitas pedras rolaram.
As Catacumbas foram criadas depois, por simples necessidade básica. Higiene mesmo. Em meados do século XVIII, a maiorias das (muitas) igrejas de Paris tinha seu próprio cemitério. Com o crescimento vertiginoso da cidade, nenhum destes locais tinha mais espaço para novos “moradores”. Muitas pessoas, que habitavam os arredores destes cemitérios, estavam adoecendo devido a contaminação de água e solo com matéria orgânica em decomposição. A situação era assustadora.
Em 1785, o Conselho de Estado resolveu tomar uma atitude. Novos cemitérios, bem longe do centro da cidade, já estavam sendo construídos. Mas o que fazer com as ossadas que permaneciam nos cemitérios antigos, superlotados e super-contaminados? A idéia veio do chefe de polícia, General Alexandre Lenoir: por que não utilizar os corredores subterrâneos da cidade? E assim foi feito. Sob orientação de Charles Axel Guillaumont, Inspetor Geral dos túneis de Paris, as primeiras ossadas transferidas saíram do cemitério Saint-Nicolas-des-Champs após as catacumbas terem sido abençoadas, em 4 de abril de
1786. Inicialmente, as ossadas eram jogadas de qualquer jeito. Só a partir de 1800, no Império Francês, que as ossadas foram sendo organizadas de uma maneira mais “criativa”, por assim dizer: fêmur e tíbia (ossos longos) afrente, para formar uma parede que foi decorada com crânios e demais “peças” do esqueleto humano. Uma verdadeira obra de arte, composta por cerca de 5 milhões de pessoas. Tão assustador quanto intrigante.

Paris de Ethan e Julie - Antes do Pôr-do-Sol


Antes do Por-do-Sol (Before Sunset)


Antes do Por-do-Sol é a sequência de Antes do Amanhecer (Before Sunrise), onde um jovem casal se conhece numa viagem de trem, conversam sobre as ansiedades daquele momento de suas vidas, sem o peso e a responsabilidade da vida adulta, e se separam ao final, com a promessa de se reencontrarem exatos 6 meses depois. Um filme independente, simples e leve, mas com uma noção incrível da realidade que nos cerca, demostrada principalmente através das falas precisas escritas pelo próprio diretor. Muitos ainda acham que era um filme único, que não precisava de mais explicações numa mera continuação. A dúvida ficaria no ar: será que eles realmente se encontraram 6 meses depois? Bom, obviamente este segundo filme esclarece a dúvida. Mas se engana quem acha que esta continuação tirou o encanto do primeiro filme. Neste novo encontro, 9 anos após a madrugada romântica em Viena, saem de cena os sonhos e devaneios da juventude e entram as preocupações da vida adulta, as perguntas sem respostas, e a terrível questão, e se? Muitos “e se?” são colocados ao longo do filme, levando o expectador a seguir o casal através de intermináveis – porém deliciosas – caminhadas pelos mais diversos cantos de Paris. Sempre recheadas de diálogos primorosos – muitos deles resultado do improviso da dupla de atores – e é claro, belos cenários.


No início do filme, o personagem de Ethan Hawke está dando autógrafos numa conceituada livraria da cidade. O nome desta livraria? Shakespeare and Company. Bom, aqui cabe esclarecer uma questão. A Shakespeare and Company original, aberta em 1919 por Sylvia Beach, não ficava neste endereço, e sim no número 8 da rue Dupuytren. Dois anos depois, Sylvia levou a livraria para um espaço maior, no número 12 da rue de l'Odéon, onde permaneceu até 1941, quando foi fechada por força da invasão da França pelos soldados de Hitler. Em 1951, número 37 da rue de la Bûcherie, bem pertinho da catedral de Notre Dame, foi aberta uma livraria semelhante a Shakespeare and Company, de nome Le Mistral. O proprietário era o inglês George Whitman. Após a morte de Sylvia Beach, Whitman resolveu prestar-lhe uma homenagem, trocando o nome de sua loja, surgindo assim a Shakespeare and Company da rue de la Bucherie. Hoje, é a filha de George Whitman, Sylvia, quem comanda a livraria.


De lá, o casal sai caminhando pela cidade, e a primeira parada é, claro, um café! Este fica há cerca de 3 quilômetros da livraria, do outro lado do Sena, perto da região da Bastilha, no 11º arrondissemente (Popincourt), número 14 da Rue Jean-Macé. Pode-se chegar através do metrô, mas a melhor maneira é caminhando, sempre. Paris, assim como NY, deve-se conhecer a passos curtos, calmos e contemplativos. O café em questão se chama Le Purê Café, mais parisiense, impossível. Assim como o passeio de barco, pelo Sena, que os dois pombinhos fazem a certa altura do filme. Imperdível. O barco que eles usaram pertence a empresa Canauxrama, mas existem inúmeras empresas que fazem estes mini-cruzeiros pelo Sena. Sua provável saída foi do Port de Montebello, margem esquerda do Sena, bem ao lado da Notre Dame. Um detalhe, esta empresa, Canauxrama, também faz pequenos cruzeiros pelo Canal St. Martin, o mesmo canal de Amelie Poulain, com suas diversas eclusas e pontes de metal. O destino final deste passeio, pouco prestigiado pelos turistas, é o Parc de La Villette e seu cinema em forma de globo prateado. Se tiver um dia livre, aproveite.


Mas antes de chegar ao barco, o casal sai do café e percorre, em sua caminhada, um local incrível da cidade, também pouco visitado por turistas. Trata-se da Promenade Plantée, sobre o Viaduc dês Arts, há 1,5 quilômetros do café. Nada mais é que um antigo elevado, por onde passava uma antiga linha de trem, hoje transformado num excelente local para caminhadas, repleto de verde e flores. Debaixo do elevado fica o Viaduc dês Arts, uma espécie de galeria com várias lojas e ateliês para inúmeros artistas. Um belo passeio, tudo bem próximo a Gare de Lyon e a Opera Bastile, uma estação de trem e um famoso ponto turístico da cidade. Não tem como errar.
E por fim, o apartamento de Celine, onde acontece uma das cenas mais belas do filme, também fica perto da região da Bastilha. O local se chama Cour de l'Etoile d'Or, mais uma daquelas típicas vielas da cidade, com uma pequena rua pavimentada com blocos de pedra, rodeada de pequenas casas, coladas umas nas outras, cada uma com seu pequeno jardim, muito bem cuidado. A entrada é pela Rue Du Faubourg Saint-Antoine, que se inicia na praça da Bastilha.


Paris de Bertolucci - O Último Tango em Paris e Os Sonhadores


O Último Tango em Paris (Last Tango in Paris) - ano de lançamento:1972


Os Sonhadores (The Dreamers) - ano de lançamento:2003


Os dois filmes mostram Bertolucci em épocas distintas. Em O Último Tango em Paris, a melancolia e a depressão predominam. A maior parte do filme acontece num apartamento tão sujo e vazio quanto a alma de seus personagens. Um romance às avessas, com muito sexo, poucos diálogos e um final trágico. Um filme para poucos, bem ao estilo, ame-o, ou odeie-o. Não há meio termo. Já no segundo filme, Os Sonhadores, Bertolucci parece muito mais leve, lírico e de bem com a vida. Seus personagens, adolescentes cheios de vitalidade e energia, nos levam a um mundo livre de tabus e preconceitos. Estamos no final da década de 60, em plena revolução estudantil, onde cinema e rock’n roll tinham tudo a ver. Na trilha sonora, Janis Joplin, The Doors, Jimi Hendrix e Bob Dylan, apenas para citar os mais conhecidos. O sexo novamente está presente, com cenas ainda mais picantes. Mas desta vez apoiado no liberalismo sexual da época e na curiosidade incisiva da adolescência. Envolvendo a trama, uma linda homenagem ao cinema. Uma cena, onde os três aparecem correndo pelos corredores do Louvre, tentando bater o recorde da mesma cena do filme Bande a Part, de Jean-Luc Godard, é especialmente linda. Bortolucci mostra que sabe o que faz, mesclando à sua sequência, pequenas cenas em preto e branco do filme original. Brilhante.


Em ambos, apesar da diferença conceitual, a cidade de Paris é o palco principal. E que palco. Uma simples caminhada noturna do trio de personagens de Os Sonhadores, às marges do Sena, bem perto da Passarelle Debilly, é tudo, menos uma simples caminhada noturna. Em O Último Tango em Paris, Bertolucci mostra incansavelmente a belíssima Pont de Bir-Hakeim, com suas colunas de ferro que seguram os trilhos da linha de metro, que conectam o XV e XVI arrondissement. Na extremidade norte desta ponte, região conhecida como Passy, fica o apartamento onde o intenso affair é consumado. No filme, o endereço é o número 1 da Rue Jules Verne. Mas esta rua não existe (pelo menos nesta região). O endereço correto é o número 1 da Rue de l’Alboni. E aproveite para tomar um café por ali mesmo. No filme, a personagem de Maria Schneider entra neste café para fazer um telefonema. O local hoje se chama Kennedy Eiffel Bar, e fica, obviamente, na Avenue Du President Kennedy.


De volta a Os Sonhadores, após a excelente abertura em close extremo da Torre Eiffel, onde acompanhamos os olhos do personagem de Michael Pitt descendo a Torre, vislumbrando cada detalhe, vamos atrás do mesmo, cruzando o Sena a pé, através da Pont d’léna, que justamente conecta a Torre Eiffel ao famoso Trocadero e o Palais de Chaillot. Como o filme atesta, era neste palácio que funcionava a Cinémathèque française, local muito freqüentado por jovens e cineastas da época. Inclusive, o pano de fundo que costura toda a história do filme, é a revolta estudantil causada pela troca de diretoria desta Cinémathèque française, num episódio que ficou conhecido como Caso Langlois. Após várias mudanças, este imenso arquivo do cinema ganhou uma casa própria, à altura, desenhada pelo famoso arquiteto Frank Ghery, o mesmo que projetou o Museu Guggenheim de Bilbao, na Espanha, conhecido por seu esqueleto externo de latão. O prédio fica numa região conhecida como Bercy, bem no meio de um lindo parque. Estando lá, aproveite para conhecer a incrível passarela de Bercy (Passerelle Simone de Beauvoir), que conecta este parque com a Biblioteca Nacional da França ou BNF (Bibliothèque Nationale de France), e ainda um pequeno aglomerado de lojas e restaurantes conhecido como Bercy Village. Não estão no filme de Bertolucci, mas com certeza merecem uma visita. Um bom momento para exercitar o consumismo.


Mas dois pontos que estão no filme Os Sonhadores, ainda podem ser identificados na cidade. O Hotel, onde o personagem de Pitt está hospedado, fica entre dois pontos turísticos de Paris, O Jardim de Luxemburgo e o Panteão, bem no meio do Quartier Latin, o bairro dos estudantes, da bohemia e da Universidade de Sorbonne. O hotel se chama Hotel de Senlis, fica na Rue Malebranche, e é bem fácil de reconhecer através de sua fachada de madeira pintada de vermelho escuro. Outro local é o Restaurant Brasserie Le Valois, número 1 Place Rio de Janero, esquina com a Rue de Lisbonne, há cerca de 1 quilômetro do Arco do Triunfo. No filme ele aparece pouco, mas se você pensa num bom jantar, este é o lugar.


Bônus

Cinémathèque française ou Cinémathèque Henri Langlois?

Tudo começou nos anos 30, através do esforço de um homem apenas, Henri Langlois, um jovem apaixonado pelo cinema. Todo e qualquer cinema. Seu objetivo inicial era apenas preservar filmes antigos, salvando-os do esquecimento e do ostracismo. Langlois corria atrás de cópias de filmes mudos e objetos usados em cena (cenários, latas de rolos de filmes e até trajes usados em determinadas obras), bisbilhotando antigas salas de cinemas da época, mercados de pulga e muitas vezes, até em latas de lixo. De antigos filmes mudos, Langlois começou a guardar também exemplares de obras contemporâneas, que eventualmente eram jogados fora após certo tempo de exibição. Langlois não ficou sozinho por muito tempo em sua cruzada. Logo recebeu o apoio de um cineasta famoso, de nome Georges Franju, e iniciaram o primeiro cineclube de Paris, referência em Paris e na Europa, exibindo filmes e mais filmes em salas de leitura e até no apartamento da família de Langlois.
Quando a Segunda Grande Guerra começou, veio junto o pior perído enfrentado pela dupla Langlois e Franju. Hitler declarou que todo e qualquer filme feito antes de 1937 – além de filmes atuais que não representavam o pensamento nazista – deveriam ser queimados. Numa correria desenfreada, a dupla, com a ajuda de alguns amigos, contrabandeou uma imensa quantidade de filmes e documentos para uma região da França não ocupada pelos nazistas. Com o fim da guerra, tudo pode ser levado de volta a Paris. E desta vez, o governo da França resoveu apoiar a Cinémathèque française, liberanto uma pequena verba para a manutenção do acervo, uma sala exclusiva e uma equipe de trabalhadores. Langlois foi eleito presidente da Cinémathèque, e novamente pode organizar ciclos e mostras cinematográficas pelas noites de Paris. Cinéfilos, diretores e atores tinham novamente uma casa. Toda a nova onda (Nouvelle Vague) passou a frequentar a casa: Alain Resnais, Francois Truffaut, Jean-Luc Godard, Claude Chabrol, Roger Vadim, Jacques Donial-Valcroze, Pierre Kast, entre tantos outros.
Em maio de 1968 aconteceu o caso Langlois, bastante romantizado, por assim dizer, no filme de Bertolucci, Os Sonhadores, quando o então ministro da Cultura francês André Malraux resolveu demitir ninguém menos que Henri Langlois da liderança da Cinémathèque française, alegando deficiências de gestão. Esse fato originou uma verdadeira revolta pública, com protestos publicamente liderados pelo jornal Combat e pela revista Cahiers du Cinema, que recebeu manifestações de apoio de inúmeras figuras do cinema como Abel Gance, Alain Resnais, François Truffaut, Joseph Losey, Roberto Rossellini, Nicholas Ray, etc. Após declarações destes, e de muitos outros cineastas, de que se Langlois não fosse reconduzido ao cargo, nenhum deles faria mais um filme sequer na França, a cúpula do Ministério da Cultura voltou atrás. Longlois era, novamente, presidente da instituição que representava cineastas, atores e cinéfilos, mais importante de mundo. Sua obra fruto de sua intensa paixão pelo cinema.


EUA - Os Vinhedos da California em Sideways, Entre Umas e Outras


Sideways, Entre Umas e Outras (Sideways)


Sideways tem um belo enredo. Tem ótimos diálogos. Flerta com o cotidiano do ser humano em quase todas as cenas, mesmo quando a dupla central está apenas numa vinícola provando novos vinhos. Sideways desce bem para conhecedores de vinho – principalmente aqueles que levam o assunto bastante a sério, decifrando aromas e sabores em apenas um gole – e para pessoas que pretendem apenas desfrutar de alguns bons momentos acompanhados de uma boa bebida e uma boa comida. Mas Sideways tem algo que eleva a sua existência: as atuações de Thomas Haden Church e Paul Giamatti. O trabalho dos dois parece uma história em quadrinhos. Como se um fosse o oposto do outro. O mocinho e o herói. Ao mesmo tempo, tal característica fez deles melhores amigos, como uma planta que cresce no caule de outra. Juntos formam uma espécie de simbiose tão necessária para vida de ambos. E o filme mostra essa diferença constantemente, como na hora de degustar os vinhos, quando um faz uma análise completa de cada amostra, enquanto o outro está interessado apenas em encher a cara. Ou na diferença em como cada um tenta se aproximar das garotas, com um pensando apenas em sexo e o outro interessado num relacionamento mais intenso. Assim como cada espécie de uva cultivada na região, que precisa de condições adversas para se desenvolver, os dois personagens seguem caminhos parecidos em suas vidas, um ator frustrado e o outro um escritor que não consegue lançar um livro sequer. Mas cada um com características próprias, e que precisa das decepções do outro para se desenvolver. Complicado a princípio. Mas quem disse que viver é simples?


O filme não perde tempo. Após uma apresentação rápida – porém efetiva – dos personagens, que não leva mais do que 10 minutos, pegamos carona com as neuroses de cada um, pelas estradas da California. Vamos em direção a região de Santa Bárbara, norte de Los Angeles, menos conhecida que as regiões de Napa Valley e Sonoma, mas não por isso menos atrativa.
Pegamos a Santa Rosa Road para a primeira parada, na Sanford Winery, número 7250 da mesma estrada, em Buellton. É lá que ocorre uma das cenas mais engraçadas do filme, quando o personagem de Giamatti, apaixonado por vinhos, faz uma análise minuciosa de um Pinot Noir Vin Gris, para o amigo, que está mais interessado em beber logo a amostra do que ter aulas de enologia. De lá, os amigos cruzam uma pequena cidade de estilo escandinavo, chamada Solvang
.
O vilarejo dá um gostinho da Dinamarca na California. Algumas construções são no antigo estilo dinamarquês. Uma réplica em escala menor, da torre-observatório Rundetarn – torre redonda – que encontramos em Copenhagen, capital da Dinamarca, foi recentemente construída em Solvang. Assim como uma réplica da estátua da Pequena Sereia, também encontrada em Copenhagen e o busto de seu criador, o escritor de contos Hans Christian Handersen. A língua falada em Solvang é inglês. Um alívio. Tente entender um legítimo dinamarquês falando.

O Windmill hotel, aquele com o moinho de vento na fachada, é na verdade o Days Inn Buellton, número 114 East da Highway 246, cidade de Buellton. De lá, os dois andam cerca de 300 metros apenas até o Hitching Post II, o restaurante que produz seu próprio vinho, número 406 east da mesma Highway 246. Boa pedida para um bom jantar. O café da manhã, no entanto, é de volta a Solvang, no Solvang Restaurant, número 1672 da Copenhagen Drive. Já em outra cidadezinha, Los Olivos, acontece o jantar da dupla com as novas amigas, na cena onde o personagem de Giamatti, totalmente embriagado, liga para sua ex-mulher. O local é o Los Olivos Cafe and Wine Merchant, número 2879 da Grand Avenue, Los Olivos. É aqui, do lado de fora do restaurante, poucos minutos antes de iniciar o encontro, que o personagem de Giamatti mostra claramente seu desprezo pelo Merlot. Um momento sublime. As vinícolas e os vinhos degustados no filme, você pode conferir nos extras a seguir.


Bônus

Os vinhos de Sideways

Confira os rótulos degustados ou apenas citados durante o filme. A seleção dos vinhos seguiu o critério pessoal do diretor Alexander Payne, que escolheu as marcas que mais aprecia beber.

Cheval-Blanc 1961

Château Cheval Blanc, Saint-Émilion, Bordeaux, produzido com uva cabernet franc. A garrafa é mencionada várias vezes e finalmente bebida no final do filme, em local inusitado (uma lanchonete).
Tenuta San Guido Sassicaia 1988

Um supertoscano composto de 85% de cabernet sauvignon e 15% de cabernet franc. Citado por Maya como o vinho que a fez despertar o gosto pela bebida.
RichebourgDomaine de la Romanée-Conti

Um especialíssimo vinho da Borgonha. Esta garrafa é apenas mostrada, trata-se do rótulo mais caro da adega de Stephanie (um Richbourg 2004 sai por cerca de R$ 3.000,00 no Brasil)
Dominique Laurent Pommard 1998

Outro bom exemplar da Borgonha. Servido durante o jantar no restaurante Los Olivos Caffe
Gaston Huet’s Vouvray

Vinho branco da região do Loire produzido com a uva chenin blanc. Não é bebido no filme, apenas citado numa discussão de Jack com um Miles embriagado.
Opus One 1995

Premiado vinho californiano, do Napa Valley, associação entre dois monstros sagrados do vinicultura: Robert Mondavi e Rothschild. É o vinho que Miles relembra ter bebido com a ex-mulher num vinhedo de Santa Bárbara.
Byron Santa Maria Valley Brut Reserve 1992

Espumante feito de 100% pinot noir na região de Byron, em Santa Bárbara. Primeira garrafa aberta no filme. Jack estoura o espumante, ainda quente, durante a viagem no carro.
Highliner Pinot Noir 2001

The Hitching Post, Santa Bárbara. Degustado no balcão do restaurante de mesmo nome.
Andrew Murray Syrah 2002

Andrew Murray Vineyards, Santa Bárbara. Maya bebe um gole deste vinho na casa de Stephanie e acusa excesso de álcool, que estaria encobrindo a fruta.
Sea Smoke Pinot Noir 2002

Sea Smoke Cellar, Santa Rita. Servido durante o jantar no restaurante Los Olivos Caffe
Kistler Pinot Noir 2001

Kistler, Sonoma Valley. Servido no jantar no restaurante Los Olivos Caffe.
Fiddlehead Sauvignon Blanc 2001

Fiddlehead Cellars, Santa Barbara. Vinho degustado pela personagem Stephanie.
Melville Vineyards Pinot Noir 2002

Melville Vineyards, Santa Barbara. Um dos exemplares degustados por Miles e Jack durante o circuito.
Talley Pinot Noir Estate 2002

Talley Vineyards, Santa Bárbara.Outro vinho provado pela dupla.
Pinot Noir Vin Gris, Pinot Noir e Chardonnay 2001

Sanford Winery, Santa Bárbara. Primeira parada da dupla, onde Miles tenta ensinar ao amigo Jack as técnicas de degustação.
Cabernet Franc Kalyra

Kalyra Wines, Santa Bárbara. Miles critica o vinho, numa degustação desta adega, onde é servido por Stephanie, que concorda com sua avaliação.

E as vinícolas:


Fidellereas – “Lompoc Wine Ghetto”, 1597 E. Chestnut Avenue, Lompoc CA.

Foxen Winery – 7200 Foxen Canyon Road, Santa Maria

Andrey Murrey – 5095 Zaca Station Road, Los Olivos CA


Firestone – 5000 Zaca Station Road,

Los OlivosKalyra Winery – 343 North Refugio Road, Santa Ynez – onde conhecem a personagem Stephanie.

Fess Parker Winery – 6200 Foxen Canyon Road, Los Olivos – no filme, recebe o falso nome de Frass Canyon.


Dicas de harmonização

Filmes românticos e um bom vinho harmonizam de uma maneira incrível. Então aí vão três dicas para combinar com este cardápio. Dois filmes e uma vinícola. A combinação fica por conta da casa.
Para entender um pouco melhor a história da produção de vinho na California, nada melhor que acompanhá-la através de um bom filme. Bottle Shock, sem título em português, é um filme independente do diretor Randal Miller, com Chris “Capitão Kirk” Pine, Bill Pullman e Alan “Duro de Matar” Rickman no elenco. Sua história, baseada em fatos reais, descreve como a California conseguiu se inserir no disputado mercado de vinhos no mundo, onde a França mantinha uma hegemonia secular.
O filme retrata, através da ótica de um enófilo inglês que mora em Paris, os primórdios da indústria do vinho na região de Napa Valley, quando em 1976, para surpresa do mundo, a vinícola Chateau Montelena ganhou a competição internacional de melhor vinho de Paris, com o exemplar Alexander Valley Chardonnay, de 1973.
Outro filme que discute a produção de vinhos, desta vez como pano de fundo para um romance açucarado, é Um Bom Ano, de Ridley Scott, com Russel “Gladiator” Crowe no papel principal de um bem sucedido – porém arrogante – operador da bolsa de valores de Londres que se arrisca involuntariamente na produção de vinhos na região da Provença, França. E não é qualquer vinho, o filme acompanha o desenvolvimento de vinhos de garagem, chamados assim por não serem produzidos em larga escala e possuírem uma qualidade inigualável. Por isso, uma caixa deste precioso líquido pode chegar a custar até U$ 45 mil. O filme é baseado no livro de Peter Mayle, amigo de Scott desde os tempos da publicidade. Segundo algumas críticas, quando comparado ao livro, o filme deixa a desejar, principalmente por alterar certos aspectos da história. Mas como a função aqui não é criticar, e sim apreciar – exatamente como se faz com um bom vinho – sugiro este passatempo acompanhado da pessoa amada e de uma garafa de um bom Coppola Rubicon 2001. Coppola? Francis Ford Coppola? Sim, extamente. O que nos leva a terceira dica, a vinícola.
Na sua próxima visita à Califórnia, fuja um pouco do roteiro Los Angeles e San Francisco. Este Estado americano é rico em zonas de cultivo de uvas, com cerca de 2700 vícolas que cultivam principalmente uvas cabernet sauvignon, chardonnay, pinot noir, zinfandel, syrah e merlot. Além da região de Santa Bárbara – que aparece no filme Sideways – pelo menos mais 8 regiões se dedicam quase que totalmente a vinicultura. São elas: Napa, Sonoma, Mendocino, Lake, Amador, Monterey, Santa Cruz e San Luis Obispo. Estas são as mais conhecidas, e entre elas, uma está em evidência nos dias de hoje. Trata-se da região de Napa Valley, a cerca de 1 hora de carro ao norte de San Francisco. É lá que fica o lugar que todo cinéfilo deve conhecer, gostando ou não de vinhos. Foi ali que o diretor Francis Ford Coppola, apaixonado pela bebida, comprou a sua própria vinícola, chamada inicialmente Niebaum-Coppola, hoje conhecida como Rubicon Estate. Coppola foi se aperfeiçoando e hoje goza de um certo prestígio, não só por ser a fazenda do premiado diretor de cinema Francis Ford Coppola, mas também pela qualidade de seus vinhos. A garrafa do Coppola Rubicon Estate, citado acima, custa cerca de R$ 850,00.


A Vinícola é aberta a visitação, e inclui um tour com direito a degustação de cinco tipos de vinhos. Lá, pode-se conhecer o chateau e um museu sobre a plantação. Mas, novamente para os cinéfilos, há uma grande surpresa. Existe, na vinícola, um espaço especialmente reservado para os Oscars que o diretor consquistou na carreira, além de ítens da trilogia O Poderoso Chefão, como a escrivaninha de Don “Marlon Brando” Corleone e o telefone de ouro, que aparece no segundo capítulo da saga, quando Al “Michael” Pacino está numa reunião com empresários em Cuba. Agora sim, uma bela desculpa para conhecer os famosos vinhedos de Napa Valley, além de degustar um bom vinho, claro. Se o fígado ainda permitir.

Paris - O Código DaVinci


O Código Da Vinci (The Da Vinci Code)

O Código Da Vinci, o filme, pode ser interpretado através de duas visões distintas: a primeira, dos leitores da obra homônima de Dan Brown. A segunda, por quem nunca chegou perto do livro (coisa rara). Invariavelmente, para leitores e leigos, trata-se de uma história tão absurda quanto o profético fim do mundo em 2012, proposto pelo calendário Maia. Ou seja, tudo muito bem amarrado, mas que não passa de idéias – ou no máximo suposições – vindas de mentes muito criativas. Não que eu seja um católico fervoroso que defende a unhas e dentes a história de Jesus Cristo e Maria Madalena. Muito pelo contrário. Mas por menos religioso que eu possa ser, acreditar na versão de Dan Brown, conspiratória ao extremo, é engolir a seco que uma mentira possa ter sido escondida por tanto tempo e por tantas pessoas, igreja envolvida ou não. Um pouco demais para humanos apenas.


Agora, quando analisamos o filme numa comparação direta com o best-seller de 2003, com mais de 70 milhões de cópias vendidas mundo afora, novas considerações devem ser feitas. Primeira, e mais óbvia: quem leu o livro de Dan Brown, não gostou do filme de Ron Howard. E o inverso também vale: quem não leu o livro, gostou do filme. Segunda consideração, que bate de frente com a primeira: independente de gostar ou não da versão cinematográfica, o público lotou os cinemas, rendendo ao estúdio algo em torno de U$ 800 milhões. Ou seja, fidelidadade ou não, o que vale é o quanto o filme empolga. E nesse quesito, críticos de plantão que me perdoem, mas O Código da Vinci está bem acima da média. Que o filme de Ron Howard tem suas falhas, seus clichês e seus exageros, todos sabemos. Mas oras, o que podemos dizer do livro, se não a mesma coisa? O filme diverte, entretém e até faz pensar, tudo na medida. Tem coadjuvantes interessantes, como Tautou e Reno, e um enredo de fazer inveja a qualquer roteirista hollywoodiano. E como se não bastasse, o filme ainda nos leva a grandes locações nas cidades de Paris e Londres. Então, se prestarmos atenção a ingênua história do simbologista Robert Langdom, mergulhado numa trama ultra-secreta envolvendo a igreja e grandes pensadores, poderemos ver que tudo não passa de uma deliciosa aventura, uma matine de primeira, bem ao velho e bom estilo Indiana Jones. E é assim que o filme deve ser avaliado. Ao invés de criticar a suposta direção acadêmica de Ron Howard ou o tão comentado corte de cabelo estilo “mullets” do personagem de Tom Hanks, sente-se na poltrona e deixe-se levar por uma aventura bem acima da média.


Louvre, St. Sulpice, Gare Du Nord e Bois de Boulogne. Todos atrativos turísticos da cidade de Paris, que volta e meia, desfilam pela história. Este último, Bois de Boulogne, talvez não tenha uma veia tão turística assim. Mas serve como curiosidade, pois foi neste parque, quase três vezes maior que o Central Park de NY, que Santos Dumont executou diversas experiências aéreas antes de realmente decolar com seu XIV Bis, no início do século XX. A Igreja de St. Sulpice, do filme, só reflete o exterior da verdadeira Igreja de St. Sulpice.


O interior foi filmado em estúdio, com uma ajudinha de um bocado de efeitos especiais. Assim como o Museu do Louvre, que aparece freqüentemente, seja através de seus imensos corredores ou com as famosas pirâmides de vidro, na entrada ou no interior.


Esta última, invertida. Muito deste interior teve que ser recriado em estúdio, principalmente a cena da Mona Lisa, protegida a sete chaves pelo Museu. Algumas outras cenas foram de fato filmadas no Louvre, o que não é uma novidade, por assim dizer, pois filmes como Os Sonhadores (The Dreamers) de Bernardo Bertolucci e Época da Inocência (Age of Innocence), de Martin Scorsese, já tiveram cenas rodadas dentro deste gigantesco museu.
No entanto, a locação que desperta maior curiosidade quando seguimos os passos (literalmente) de Robert Langdon em Paris, é a famosa Rose Line, que é citada em determinado momento dentro da igreja de St. Sulpice, e mais tarde, bem ao final, após um insight do personagem, quando Langdon chega novamente ao Louvre, seguindo esta famosa linha. Ela existe mesmo? Se existe, para que serve? E o que são aquelas “medalhas” gigantes encravadas no piso? Bom, vamos elucidar o caso. Sim, ela existe mesmo, mas tem o nome de Meridiano de Paris, e não tem qualquer ligação com seitas esotéricas. Isso mesmo, a linha representa um meridiano criado pelo astrônomo francês Abbé Jean Picard, por volta de 1670.


Mais de cem anos depois, em 1800, outro astrônomo, François Arago, recalculou com maior precisão a localização exata do meridiano que deveria representar a longitude zero do globo terrestre. Mas nem todo o mundo aceitou o meridiano de Paris como definitivo. Como na época a tecnologia de GPS não existia, muito menos a internet, muitos outros meridianos dividiam as atenções com a linha de Paris. Em Portugal, foi adotado o meridiano de Coimbra ou de Lisboa, na Espanha, o meridiano de Cádis, e na Holanda, o meridiano do Pico de Tenerife. E estes são apenas alguns exemplos. Mas após um acordo internacional (produto da Conferência Internacional do Meridiano, que aconteceu em Washington DC, em 1884), ficou definido que o meridiano de Greenwich – que passa pela cidade de Greenwich, na Inglatera – seria adotado como o primeiro meridiano, servindo como referência para calcular as distâncias em longitudes e estabelecer os fusos horários em todas as regiões do globo. A França não aceitou muito bem esta decisão, continuando a utilizar o meridiano de Paris como base, até o início do século XX, por volta de 1910. Este meridiano foi um grande “rival” do meridiano de Greenwich por muito tempo. E esta rivalidade pode ser encontrada inclusive no livre de Julio Verne, “As Vinte Mil Léguas Submarinas”.

Os medalhões incravados no chão de Paris, nada mais são que uma homenagem – um memorial – a astrônomo François Arago, criado pelo artista holandês Jan Dibbets a pedido da associação Arago, de Paris. São 135 (ou 121, há controvérsias) medalhas de bronze com a inscrição Arago e as letras N e S (Norte e Sul), na linha do meridiano que corta acidade de norte a sul por cerca de 9 quilômetros. No Observatório de Paris (l'Observatoire de Paris), também é possível ver essa linha no chão de uma de suas salas. Assim como na cidade de Greenwich (Inglaterra), em seu Real Observatório, onde é possível ver o traçado original do Meridiano de Greenwich. Para o desgosto dos franceses.

Mas um detalhe: a linha que corta o interior da igreja de St. Sulpice não tem relação alguma com o meridiano de Paris. Este tem seu traçado distante cerca de 100 metros da igreja. Esta linha, dentro da St. Súplice, assim como o obelisco de mármore (“gnomon”) que fica numa das extremidades desta linha, foi uma encomenda feita pela própria igreja, com o objetivo de marcar com exatidão a época da páscoa cristã. Como? Simples. Existe uma linha dourada que se inicia na ponta do obelisco e se extende através do chão da igreja, até desaparecer numa capela lateral. No final desta linha, olhando para cima, no imenso vitral, é possível ver que numa das janelas o vidro foi trocado por uma placa escura. Esta placa é que constitui o verdadeiro gnomon (anteparo que permite o estudo da movimentação do sol), e não o obelisco de mármore, que serve apenas para dar continuidade a linha do chão e demarcar, portanto, o solstício de inverno. A linha se extende de norte a sul, e a sombra que o verdadeiro obelisco faz no chão, quando parar bem em frente ao altar principal, é que vai indicar o equinócio da primavera, no dia 21 de março de cada ano. A data da páscoa é definida como o domingo que segue a primeira lua cheia após o equinócio de primavera, no hemisfério norte. Esta linha, portanto, é apenas um calendário solar, e nada tem haver com a Rose Line, ou a Rosslyn, ou o meridiano de Paris ou mesmo o tão falado Priorado de Sião. Dan Brown apenas aliou livremente, sem compromisso com a verdade, um excelente trabalho de pesquisa a uma história polêmica envolvendo Jesus Cristo, Maria Madalena e Leonardo Da Vinci. Palmas para o autor.


quarta-feira, 23 de junho de 2010

Paris - O Fabuloso Destino de Amelie Poulain


O Fabuloso Destino de Amelie Poulain (Le Fabuleux destin d'Amélie Poulain)
gênero:Comédia
duração:02 hs 00 min
ano de lançamento:2001
estúdio:Le Studio Canal+ / Filmstiftung Nordrhein-Westfalen / France 3 Cinéma / La Sofica Sofinergie 5 / MMC Independent GmbH / Tapioca Films / Victoires Pictures
distribuidora:Miramax Films
direção: Jean-Pierre Jeunet
roteiro:Jean-Pierre Jeunet e Guillaume Laurant
produção:Jean-Marc Deschamps
elenco:
Audrey Tautou (Amélie Poulain)
Mathieu Kassovitz (Nino Quincampoix)
Rufus (Raphael Poulain)
Yolande Moreau (Madeleine Wallace)
Artus de Penguern (Hipolito)
Urbain Cancelier (Collignon)
Maurice Bénichou (Dominique Bretodeau
)

Após deixar a vida de subúrbio que levava com a família, a inocente Amélie (Audrey Tautou) muda-se para o bairro parisiense de Montmartre, onde começa a trabalhar como garçonete. Certo dia encontra uma caixa escondida no banheiro de sua casa e, pensando que pertencesse ao antigo morador, decide procurá-lo ¬ e é assim que encontra Dominique (Maurice Bénichou). Ao ver que ele chora de alegria ao reaver o seu objeto, a moça fica impressionada e adquire uma nova visão do mundo. Então, a partir de pequenos gestos, ela passa a ajudar as pessoas que a rodeiam, vendo nisto um novo sentido para sua existência. Contudo, ainda sente falta de um grande amor.

Amélie Poulain é um conto, onde situações comuns são levadas ao exagero e momentos difíceis, como a morte da mãe, atingida por um turista que caiu da Notre Dame, retratados caricatamente. É carregado nas cores, quase como uma história em quadrinhos. Seus personagens são, em sua maioria, retratos exagerados de pessoas comuns, mas que parecem vindas de outro planeta. Para completar, o estilo de Junet, ora nervoso, ora contemplativo, transforma o filme numa viagem pelo desconhecido, uma verdadeira fábula para contar um pouco do mundo em que vivemos. Não se parece em nada com uma obra de Hollywood – apesar de ter uma pitada de Tim Burton no conceito – e por isso mesmo pode não agradar a todos. Mas é inegável que Junet tem identidade, originalidade e coragem para, em plena era de glorificação de filmes com bastante carga realista, injetar o lúdico e o fantástico na vida das pessoas. Parabéns a Junet. E vida longa a Amélie Poulain.
Além de ser um sopro de originalidade em meio a imensidão de filmes sem identidade que são lançados anualmente, Amélie Poulain ainda funciona como um excelente guia turístico de Paris. Não a Paris da Torre Eiffel, da Champs Elisee ou do Arco do Triunfo. Mas principalmente a Paris de Montmartre, o 18º Arrondissement, e sua imponente Sacre Ceur. O filme passeia pela região revelando seus segredos, como suas estações de metrô, suas famosas escadarias e seus charmosos cafés. Montmartre é conhecido como o endereço da boemia parisiense. Lá se produzia vinho – e ainda se produz, em pequena quantidade porém, no único parreiral remanescente dentro dos limites da cidade – e por isso atraia os moradores da cidade para noites de bebedeira. Também por esse motivo, foi nessa região que se desenvolveram os famosos cabarés da cidade, como o Lido e o Moulin Rouge. No século 19, o 18º arrondissement não pertencia ainda a cidade de Paris. Por isso, seus aluguéis eram baratos, e sua proximidade com a cidade, excelente. Muitos artistas famosos se mudaram para a região, entre tantos, estão nomes como Picasso, Van Gogh e Renoir.
O pequeno apartamento de Amélie Poulain fica na Rue des Trois Freres, número 56, em cima de um pequeno mercado de nome Au Marche de La Butte.

No filme o local se chamava Maison Collignon, e esta placa indicativa ainda pode ser encontrada na fachada da loja. No vidro, recortes de jornal indicam que você está no lugar certo. Ali perto, há apenas 150 metros, fica um lugar chamado L’Escale Restaurant, antigo Blue Sky, que aparece no final do filme Ronin (idem), no encontro entre os personagens de Robert De Niro e Jean Reno. Ao final da cena, e consequente final do filme, podemos ver o personagem de Jean Reno subindo as imensas escadarias ao lado do bar, que integram a Rue Drevet e levam a rue Andre Barsacq.

Saindo do apartamento de Amélie, vamos para o local mais famoso do filme, o Café des deux Moulins, onde ela trabalhava. O local existe, e pasmem, exatamente como vemos no filme. Um momento ímpar no tour.

O café fica no número 15 da Rue Lepic, e se você descer mais uns 150 metros pela mesma rua, encontrará o famoso Moulin Rouge, bem em frente a Place Blanche, no Boulevard de Clichy.

Aqui é um bom lugar para pegar o fabuloso (com o perdão do trocadilho) metrô de Paris. Pegue a linha 12 verde, com destimo a Port de La Chapelle, passe apenas uma estação e desça na Lamarck-Coulaincourt. Essa é a belíssima estação de metrô, com a dupla escadaria, onde Amélie descreve um mercado da Rue Lamarck a um homem com deficiência visual.
Perto do Moulin Rouge, há cerca de 300 metros, no número 37 do Boulevard de Clichy mesmo, fica a sex shop onde o personagem de Mathieu Kassovitz trabalhava, a Palace Video. No número 11 de outro Boulevard (Paris é a cidade dos Boulevards, cortesia do Barão de Haussmann, veja o porque mais adiante), o Boulevard St. Martin, fica a loja onde Amelie compra uma máscara do Zorro para a seu pequeno jogo de esconde-esconde, a Au Clown
de La Republique. Esse Boulevard, por sua vez, fica bem próximo do famoso Canal St. Martin, onde podemos ver Amélie com seu passatempo predileto, jogar pedras na água.

Este canal rende um excelente passeio, seja de barco, ou a pé, principalmente aos domingos, quando as duas ruas que acompanham o canal, a Quai de Valmy e a Quai de Jemmapes, são fechadas para uso exclusivo de pedestres e ciclistas.

Além das ruas estarem lotadas de pequenas lojas bastante interessantes, durante o passeio ainda podemos ver e admirar as diversas pontes de ferro que cruzam o canal e as eclusas necessárias para nivelar os vários estágios do percurso. Além disso, durante a primavera e verão, o local é mutio freqüentado por parisienses que lá se reúnem para curtir um bom picnic regados a uita musica ao ar livre. O filme ainda faz alguns passeios pelas magníficas estações de trem de Paris, como a Gare du Nord, Gare de Lyon e Gare de L’Est, onde, nesta última, fica o pequeno quiosque de fotos que aparece inúmeras vezes na história. E pontos turísticos da cidade, obviamente, não poderiam ficar de fora. Podemos ver Amélie caminhando pela famosa Pont dês Arts, que atravessa o rio Sena na região do Louvre; no carrossel e nas escadarias da gigantesca Sacre Ceur, bem no alto de Montmartre e ainda a famosa Notre Damme, na cena onde a mãe de Amélie sofre um acidente no mínimo curioso, envolvendo um turista em queda livre.

Making-off:
- O Fabuloso Destino de Amélie Poulain teve cinco indicações ao Oscar, nas seguintes categorias: Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Som e Melhor Roteiro Original. Não ganhou nenhum;
- No festival de Cannes, foi completamente desprezado pela comissão organizadora;
- Na maioria das apresentações dos personagens, aparece o que eles mais gostam. Em um seleto grupo, também é demonstrado o que é desgostado;
- Jean-PierreJunet dirigiu o quarto episódio da franquia Alien, Alien A Ressurreição, o mais fraco da série. O filme tem estilo, e nada mais.

NY - Harry e Sally Feitos um para o Outro


Harry e Sally, Feitos Um para o Outro (When Harry Meets Sally)
Gênero: Comédia RomânticaTempo de Duração: 110 minutosAno de Lançamento (EUA): 1989Estúdio: Columbia Pictures Corporation / Castle Rock Entertainment / Nelson EntertainmentDistribuição: Columbia Pictures / Metro-Goldwyn-MayerDireção: Rob ReinerRoteiro: Nora EphronProdução: Rob Reiner e Andrew Scheinman
Elenco
Billy Crystal (Harry Burns)Meg Ryan (Sally Albright)Carrie Fisher (Marie)Bruno Kirby (Jess)


Após se formarem pela Universidade de Chicago, Harry Burns (Billy Crystal) e Sally Albright (Meg Ryan), um casal de estudantes viaja junto para Nova York. Com o passar dos anos cada um leva a sua vida, encontram-se esporadicamente, mas aos poucos, e de forma um pouco assustadora, descobrem que estão se apaixonando.

O pai – e a mãe – das comédias românticas, Harry e Sally, Feitos um para o Outro é um filme leve e gostoso, como um bom romance deve ser. Tem ótimos diálogos e belíssimas interpretações do então jovem casal Billy Cristal e Meg Ryan. Foi brilhantemente roteirizado por Nora Ephron, mais conhecida como diretora de filmes como Sintonia de Amor (também com Meg Ryan e Tom Hanks), Mensagem para você (Meg e Tom novamente) e A Feiticeira (com Nicole Kidman). Na época, Nora era reconhecida por seu trabalho como roteirista, iniciando na direção apenas em 1992. Ela desenvolveu este roteiro após uma entrevista com o diretor do filme, Rob Reiner, recém separado e com experiência de sobra no assunto. Alguns diálogos, no entanto, foram improvisados durante as filmagens, inclusive a cena mais famosa, o orgasmo fake dentro de uma lanchonete. A idéia surgiu após Billy Cristal comentar com o diretor que o filme estava focando demais no personagem de Harry, e que seria interessante criar algo para Sally. Foi assim que surgiu a cena de sexo, sem sexo, mais famosa do cinema.
Hoje, quando Meg Ryan aparece em cena, em qualquer filme, a primeira lembrança são seus gemidos enlouquecidos de tesão, acrescidos dos Yes, Yes, Yes mais fomosos do cinema. Bom, essa lembrança é válida apenas para quem tem mais de 30 anos, claro. Para quem não faz parte deste grupo, a cena é mais ou menos assim: Sentados numa delicatessen, Harry e Sally discutem o relacionamento entre homens e mulheres (como em praticamente todo o filme, mas de maneira sincera e muito bem escrita) quando entram neste polêmico assunto: afinal, seria possível a uma mulher fingir um orgasmo sem que o homem perceba? O que se sucede então é a cena clássica que marcou a carreira de Meg Ryan para sempre. Praticamente todos os filmes pós Harry e Sally, quando se prestam a discutir o orgasmo, citam esta cena. O lugar da filmagem é a Katz Delicatessen, número 205 East da Houston Street. Serve café da manhã, almoço e jantar e a mesa onde Harry e Sally sentaram continua lá. E ainda, pode-se fazer o mesmo pedido que Sally fez no dia. É o prato mais vendido da casa.
E a livraria onde Harry e Sally ficam espionando um ao outro, também era real. Tratava-se de uma franquia da famosa Shakespeare and Company. Na época, ficava na esquina da 79th Street com a Broadway. Hoje, existem 3 lojas em NY, nos seguintes endereços: 939 da Lexington Avenue, 716 da Broadway e 137 E 23rd Street. As lojas desta livraria são peculiares. Paredes cobertas de livros empoeirados, prateleiras cheias de revistas e livros sem nenhuma organização.
A primeira loja surgiu em 1919 pelas mãos de Sylvia Beach, em Paris e funcionou como retiro cultural para os apreciadores da literatura. Esta loja de Paris, agora com novo dono e em outro endereço, bem pertinho da Notre Dame, pode ser vista também no filme Antes do Por-do-Sol (Before Sunset), com Julie Delpy e Ethan Hawke. É nesta livraria que o personagem de Hawk, um escritor famoso dos EUA, faz uma tarde de autógrafos de seu último livro. Mas sem correria, pois quando chegarmos a Paris, com certeza seguiremos os passos de Hawk e Delpy pela Cidade Luz.
No Central Park, o famoso The Boathouse Café também foi frequentado na cena em que as três amigas discutem os relacionamentos amorosos (ou a falta deles).
Assim como o Metropolitan Museum Of Art e o Washington Square Park. Neste último, localizado ao sul, no Greenwich Village, encontramos o Washington Square Arch, onde os dois se despedem após a longa e atípica viagem de carro que fizeram juntos desde Chicago, bem no início do filme. E aparece também no final, quando Harry passeia sozinho e pensativo pelas ruas de NY, numa noite fria de final de ano.
O arco fica na 5th Avenue e Waverly place. Ele foi construído em 1889 em homenagem a George Washington. Em estilo romano, inspirado no Arco do Triunfo de Paris, o Washington Arch, embora muito menor, substituiu um antigo arco de madeira que havia ali. Em 1891, foi todo recoberto de mármore branco.
Making off:
- Após a cena do orgasmo, protagonizada por Meg Ryan, a senhora que diz a frase "Eu quero o que ela pediu também" é a mãe do diretor Rob Reiner;
- Barry Sonnenfeld, diretor de
Homens de Preto e A Família Addams, é o diretor de fotografia de Harry e Sally - Feitos um para o Outro;
- Durante o filme o personagem Harry Burns pode ser visto lendo o livro "Misery", de Stephen King. Após o lançamento de Harry e Sally foi justamente a adaptação deste livro o trabalho seguinte do diretor Rob Reiner, cujo filme se chamou Louca Obsessão;
- Os depoimentos dos casais, que aparecem durante o filme, são verdadeiros. Exceto o último, claro.

Nova York



“There are many apples, but only one Big Apple.”

A cidade mais cosmopolita do mundo dispensaria uma apresentação formal, ou mesmo algumas locações cinematográficas como justificativa para uma visita. Mas não poderíamos começar o tour pela Big Apple sem antes falar um pouco desta cidade que é o sonho de consumo de 10 entre 10 turistas que procuram diversão, glamour e cultura. Nova York tem de tudo, e de todos os cantos do mundo, e já de início é importante ressaltar que será impossível conhecer tudo o que ela oferece, turisticamente e cinematograficamente falando. Seriam necessários meses percorrendo suas ruas e avenidas a pé – pois é assim que se deve conhecer a cidade – para se ter uma vaga idéia de tudo o que ela oferece. Restaurantes chiques, cafés da moda, bares, lojas de grifes, outlets, atrações turísticas, shows da Broadway e off-Broadway, shows circenses, passeios clássicos, ou seja, é muita coisa para pouca vida, por assim dizer. É preciso rebolar. Nova York é única, e por isso mesmo, imprescindível. Nas palavras do jornalista britânico Simon Hoggart “Viver em Nova York é como estar numa festa terrivelmente tarde da noite. Você está cansado e com dor de cabeça desde que chegou, mas não pode ir embora porque senão perderá a festa.”
Making off:
- Por volta de 1650, os colonizadores da ilha de Manhattan construiram um muro, ou muralha, pelo medo de ataques dos nativos americanos. Aos poucos, este muro foi sendo colocado abaixo, e no lugar, os colonizadores abriram uma rua, de nome... Wall Street;
- Groud Zero é o nome que se dá ao ponto da superfície da Terra onde se dá uma explosão. Pode ser usado para explosões nucleares, bombas comuns, terremotos, epidemias ou outras catástrofes. Atualmente, porém, é conhecido como o local onde ficavam as torres gêmeas do World Trade Center;
- TriBeCa não é um nome, é uma abreviatuta para "Triangle Below Canal Street" . A região, no entanto, se assemelha a um trapézio, e não a um triângulo;
- SoHo também não é um nome. É abreviatura para South Houston Street.



Os Caça Fantasmas (Ghostbusters)
Gênero: ComédiaTempo de Duração: 101 minutosAno de Lançamento (EUA): 1984
Estúdio: Columbia Pictures Corporation / Black Rhino ProductionsDistribuição: Columbia PicturesDireção:
Ivan ReitmanRoteiro: Dan Aykroyd e Harold RamisProdução: Ivan Reitman
Elenco
Bill Murray (Dr. Peter Venkman)Dan Aykroyd (Dr. Raymond Stantz)Harold Ramis (Dr. Egon Spengler)Sigourney Weaver (Dana Barrett / Zuul)Rick Moranis (Louis Tully / Vinz Clortho)Annie Potts (Janine Melnitz)

Bill Murray, Dan Aykroyd e Harold Ramis estão nesta clássica comédia sobrenatural que fará você gritar! Quando a universidade reduz o departamento de parapsicologia, os Doutores Venkman (Murray), Stantz (Aykroyd) e Spengler (Ramis) mudam sua atividade de cientistas para a de Caça-Fantasmas, investigadores e exterminadores de pestes paranormais! Quando a atraente Dana Barrett (Sigourney Weaver) descobre que seu refrigerador é um portal para a dimensão espiritual, nossos heróis ficam frente a frente com uma antiga força do mal que planeja transformar Manhattan no inferno!
“Who you gonna call? Ghostbusters !!!” A música de Ray Parker Jr. ficou em primeiro lugar nas paradas da revista americana Billboard por três semanas consecutivas, e ainda concorreu ao Oscar de melhor canção. Perdeu para a música “I Just called to say I love you”, que Steve Wonder fez para o filme A Dama de Vermelho (The Woman in Red). Abre parênteses: é impressionante como estas duas músicas, tocadas com frequência ainda hoje, foram criadas no mesmo ano, e concorreram ao mesmo Oscar. Os anos 80 eram mesmo bons tempos para os compositores. Fecha parênteses. O filme foi um tremendo sucesso em 1984, e só perdeu nas bilheterias para um tal de Um Tira da Pesada (Beverly Hills Cop), com Eddie Murphy. Ainda assim, a briga foi grande. Os Caça Fantasmas é uma ficção-científica turbinada com muita comédia e aventura, em outras palavras, um verdadeiro arrasa-quarteirões da época. Custo: cerca de US$ 30 milhões. Praticamente o salário de Tom Cruise ou Julia Roberts nos dias de hoje. Faturou 10 vezes mais (praticamente o custo de Avatar, de James Cameron. Onde vamos parar?) e gerou uma continuação, sem o mesmo sucesso de crítica, porém financeiramente ainda muito lucrativo. Alguns ícones dos anos 80 surgiram com este filme, como a música citada anteriormente e a ambulância branca, ou Ecto 1, um Cadillac Miller Meteor com uma sirene estridente. Foram construídos três carros para o filme, mas um deles nem sequer foi usado, foi feito apenas para ficar em exposição no parque temático da Universal Stúdios. E este, veja só, está à venda, pronto para rodar, com o odômetro zerado. Valor: cerca de US$ 27 mil.

O filme em si virou um ícone. Seus monstros, Geléia, Stay-Puft e Gozer são fantasmas de uma época diferente, ingênua, romântica e colorida. Num mundo de Tripods (A Guerra dos Mundos), Sauron (O Senhor dos Anéis) ou Voldemort (Harry Potter), os vilões de Os Caça Fantasmas só trazem um sentimento: nostalgia.
E é exatamente esse o sentimento que aflora quando passamos em frente ao pequeno prédio, estreito, revestido com tradicionais tijolos vermelhos, classicamente NY, e que abriga um corpo de bombeiros, no número 14 North da Moore Street, West Broadway (Tribeca). Endereço de nada mais nada menos que o quartel general dos caça fantasmas. Impossível não se emocionar ao passar em frente ao pequeno e inconfundível prédio. (imagem ao lado)
O luminoso dos Caça Fantasmas, símbolo de uma época, não está mais lá, obviamente, mas isto não diminui o entusiasmo de estar diante de algo que marcou a história do cinema. O interior do prédio não pôde ser usado porque realmente funciona ali, e já funcionava na época, um corpo de bombeiros, o grupamento 8 Hook and Ladder. A solução foi encontrar um prédio semelhante, e que não estivesse em uso.
E isso ocorreu em Los Angeles (na outra extremidade do País, diga-se de passagem), no número 225 East da Fifth Street. Local que também serviu para filmar algumas cenas de O Máscara (The Mask) e Os Aventureiros do Bairro Proibido (Big Trouble in Little China), um clássico das Sessões da Tarde.

Para jantar, uma dica é o restaurante onde o personagem de Rick Moranis atravessa uma janela para fugir de alguns animais sinistros. Ele fica na 67th Street, Central Park West, e tem o nome de Tavern on the Green. Também neste restaurante, Bud Fox (Charlie Sheen), personagen do filme Wall Street, Poder e Cobiça (Wall Street), se encontra com policiais federais após armar uma cilada contra seu mentor Gordon Gekko (Michael Douglas), o multimilionário do mundo das ações em NY
Making off:
- O roteiro original de Os Caça-Fantasmas, escrito apenas por Dan Aykroyd, iniciava o filme já mostrando um carro voador dos Caça-Fantasmas saindo da base do grupo. Foi o diretor Ivan Reitman quem sugeriu que seria melhor se o filme mostrasse como os Caça-Fantasmas foram formados. E deixar pra lá a idéia de um carro voador;
- A idéia inicial era que o homem gigante de marshmallow aparecesse pela primeira vez saindo da água ao lado da Estátua da Liberdade, para passar ao espectador a dimensão do seu tamanho. Porém, esta idéia acabou sendo deixada de lado devido às dificuldades da época em fazer com que ela parecesse real dentro do filme;
- As vozes dos personagens Geléia e Zuul foram feitas pelo próprio diretor Ivan Reitman;
- O filme recebeu 2 indicações ao Oscar, nas seguintes categorias: Melhores Efeitos Especiais e Melhor Canção Original ("Ghostbusters").