quinta-feira, 24 de junho de 2010

EUA - Os Vinhedos da California em Sideways, Entre Umas e Outras


Sideways, Entre Umas e Outras (Sideways)


Sideways tem um belo enredo. Tem ótimos diálogos. Flerta com o cotidiano do ser humano em quase todas as cenas, mesmo quando a dupla central está apenas numa vinícola provando novos vinhos. Sideways desce bem para conhecedores de vinho – principalmente aqueles que levam o assunto bastante a sério, decifrando aromas e sabores em apenas um gole – e para pessoas que pretendem apenas desfrutar de alguns bons momentos acompanhados de uma boa bebida e uma boa comida. Mas Sideways tem algo que eleva a sua existência: as atuações de Thomas Haden Church e Paul Giamatti. O trabalho dos dois parece uma história em quadrinhos. Como se um fosse o oposto do outro. O mocinho e o herói. Ao mesmo tempo, tal característica fez deles melhores amigos, como uma planta que cresce no caule de outra. Juntos formam uma espécie de simbiose tão necessária para vida de ambos. E o filme mostra essa diferença constantemente, como na hora de degustar os vinhos, quando um faz uma análise completa de cada amostra, enquanto o outro está interessado apenas em encher a cara. Ou na diferença em como cada um tenta se aproximar das garotas, com um pensando apenas em sexo e o outro interessado num relacionamento mais intenso. Assim como cada espécie de uva cultivada na região, que precisa de condições adversas para se desenvolver, os dois personagens seguem caminhos parecidos em suas vidas, um ator frustrado e o outro um escritor que não consegue lançar um livro sequer. Mas cada um com características próprias, e que precisa das decepções do outro para se desenvolver. Complicado a princípio. Mas quem disse que viver é simples?


O filme não perde tempo. Após uma apresentação rápida – porém efetiva – dos personagens, que não leva mais do que 10 minutos, pegamos carona com as neuroses de cada um, pelas estradas da California. Vamos em direção a região de Santa Bárbara, norte de Los Angeles, menos conhecida que as regiões de Napa Valley e Sonoma, mas não por isso menos atrativa.
Pegamos a Santa Rosa Road para a primeira parada, na Sanford Winery, número 7250 da mesma estrada, em Buellton. É lá que ocorre uma das cenas mais engraçadas do filme, quando o personagem de Giamatti, apaixonado por vinhos, faz uma análise minuciosa de um Pinot Noir Vin Gris, para o amigo, que está mais interessado em beber logo a amostra do que ter aulas de enologia. De lá, os amigos cruzam uma pequena cidade de estilo escandinavo, chamada Solvang
.
O vilarejo dá um gostinho da Dinamarca na California. Algumas construções são no antigo estilo dinamarquês. Uma réplica em escala menor, da torre-observatório Rundetarn – torre redonda – que encontramos em Copenhagen, capital da Dinamarca, foi recentemente construída em Solvang. Assim como uma réplica da estátua da Pequena Sereia, também encontrada em Copenhagen e o busto de seu criador, o escritor de contos Hans Christian Handersen. A língua falada em Solvang é inglês. Um alívio. Tente entender um legítimo dinamarquês falando.

O Windmill hotel, aquele com o moinho de vento na fachada, é na verdade o Days Inn Buellton, número 114 East da Highway 246, cidade de Buellton. De lá, os dois andam cerca de 300 metros apenas até o Hitching Post II, o restaurante que produz seu próprio vinho, número 406 east da mesma Highway 246. Boa pedida para um bom jantar. O café da manhã, no entanto, é de volta a Solvang, no Solvang Restaurant, número 1672 da Copenhagen Drive. Já em outra cidadezinha, Los Olivos, acontece o jantar da dupla com as novas amigas, na cena onde o personagem de Giamatti, totalmente embriagado, liga para sua ex-mulher. O local é o Los Olivos Cafe and Wine Merchant, número 2879 da Grand Avenue, Los Olivos. É aqui, do lado de fora do restaurante, poucos minutos antes de iniciar o encontro, que o personagem de Giamatti mostra claramente seu desprezo pelo Merlot. Um momento sublime. As vinícolas e os vinhos degustados no filme, você pode conferir nos extras a seguir.


Bônus

Os vinhos de Sideways

Confira os rótulos degustados ou apenas citados durante o filme. A seleção dos vinhos seguiu o critério pessoal do diretor Alexander Payne, que escolheu as marcas que mais aprecia beber.

Cheval-Blanc 1961

Château Cheval Blanc, Saint-Émilion, Bordeaux, produzido com uva cabernet franc. A garrafa é mencionada várias vezes e finalmente bebida no final do filme, em local inusitado (uma lanchonete).
Tenuta San Guido Sassicaia 1988

Um supertoscano composto de 85% de cabernet sauvignon e 15% de cabernet franc. Citado por Maya como o vinho que a fez despertar o gosto pela bebida.
RichebourgDomaine de la Romanée-Conti

Um especialíssimo vinho da Borgonha. Esta garrafa é apenas mostrada, trata-se do rótulo mais caro da adega de Stephanie (um Richbourg 2004 sai por cerca de R$ 3.000,00 no Brasil)
Dominique Laurent Pommard 1998

Outro bom exemplar da Borgonha. Servido durante o jantar no restaurante Los Olivos Caffe
Gaston Huet’s Vouvray

Vinho branco da região do Loire produzido com a uva chenin blanc. Não é bebido no filme, apenas citado numa discussão de Jack com um Miles embriagado.
Opus One 1995

Premiado vinho californiano, do Napa Valley, associação entre dois monstros sagrados do vinicultura: Robert Mondavi e Rothschild. É o vinho que Miles relembra ter bebido com a ex-mulher num vinhedo de Santa Bárbara.
Byron Santa Maria Valley Brut Reserve 1992

Espumante feito de 100% pinot noir na região de Byron, em Santa Bárbara. Primeira garrafa aberta no filme. Jack estoura o espumante, ainda quente, durante a viagem no carro.
Highliner Pinot Noir 2001

The Hitching Post, Santa Bárbara. Degustado no balcão do restaurante de mesmo nome.
Andrew Murray Syrah 2002

Andrew Murray Vineyards, Santa Bárbara. Maya bebe um gole deste vinho na casa de Stephanie e acusa excesso de álcool, que estaria encobrindo a fruta.
Sea Smoke Pinot Noir 2002

Sea Smoke Cellar, Santa Rita. Servido durante o jantar no restaurante Los Olivos Caffe
Kistler Pinot Noir 2001

Kistler, Sonoma Valley. Servido no jantar no restaurante Los Olivos Caffe.
Fiddlehead Sauvignon Blanc 2001

Fiddlehead Cellars, Santa Barbara. Vinho degustado pela personagem Stephanie.
Melville Vineyards Pinot Noir 2002

Melville Vineyards, Santa Barbara. Um dos exemplares degustados por Miles e Jack durante o circuito.
Talley Pinot Noir Estate 2002

Talley Vineyards, Santa Bárbara.Outro vinho provado pela dupla.
Pinot Noir Vin Gris, Pinot Noir e Chardonnay 2001

Sanford Winery, Santa Bárbara. Primeira parada da dupla, onde Miles tenta ensinar ao amigo Jack as técnicas de degustação.
Cabernet Franc Kalyra

Kalyra Wines, Santa Bárbara. Miles critica o vinho, numa degustação desta adega, onde é servido por Stephanie, que concorda com sua avaliação.

E as vinícolas:


Fidellereas – “Lompoc Wine Ghetto”, 1597 E. Chestnut Avenue, Lompoc CA.

Foxen Winery – 7200 Foxen Canyon Road, Santa Maria

Andrey Murrey – 5095 Zaca Station Road, Los Olivos CA


Firestone – 5000 Zaca Station Road,

Los OlivosKalyra Winery – 343 North Refugio Road, Santa Ynez – onde conhecem a personagem Stephanie.

Fess Parker Winery – 6200 Foxen Canyon Road, Los Olivos – no filme, recebe o falso nome de Frass Canyon.


Dicas de harmonização

Filmes românticos e um bom vinho harmonizam de uma maneira incrível. Então aí vão três dicas para combinar com este cardápio. Dois filmes e uma vinícola. A combinação fica por conta da casa.
Para entender um pouco melhor a história da produção de vinho na California, nada melhor que acompanhá-la através de um bom filme. Bottle Shock, sem título em português, é um filme independente do diretor Randal Miller, com Chris “Capitão Kirk” Pine, Bill Pullman e Alan “Duro de Matar” Rickman no elenco. Sua história, baseada em fatos reais, descreve como a California conseguiu se inserir no disputado mercado de vinhos no mundo, onde a França mantinha uma hegemonia secular.
O filme retrata, através da ótica de um enófilo inglês que mora em Paris, os primórdios da indústria do vinho na região de Napa Valley, quando em 1976, para surpresa do mundo, a vinícola Chateau Montelena ganhou a competição internacional de melhor vinho de Paris, com o exemplar Alexander Valley Chardonnay, de 1973.
Outro filme que discute a produção de vinhos, desta vez como pano de fundo para um romance açucarado, é Um Bom Ano, de Ridley Scott, com Russel “Gladiator” Crowe no papel principal de um bem sucedido – porém arrogante – operador da bolsa de valores de Londres que se arrisca involuntariamente na produção de vinhos na região da Provença, França. E não é qualquer vinho, o filme acompanha o desenvolvimento de vinhos de garagem, chamados assim por não serem produzidos em larga escala e possuírem uma qualidade inigualável. Por isso, uma caixa deste precioso líquido pode chegar a custar até U$ 45 mil. O filme é baseado no livro de Peter Mayle, amigo de Scott desde os tempos da publicidade. Segundo algumas críticas, quando comparado ao livro, o filme deixa a desejar, principalmente por alterar certos aspectos da história. Mas como a função aqui não é criticar, e sim apreciar – exatamente como se faz com um bom vinho – sugiro este passatempo acompanhado da pessoa amada e de uma garafa de um bom Coppola Rubicon 2001. Coppola? Francis Ford Coppola? Sim, extamente. O que nos leva a terceira dica, a vinícola.
Na sua próxima visita à Califórnia, fuja um pouco do roteiro Los Angeles e San Francisco. Este Estado americano é rico em zonas de cultivo de uvas, com cerca de 2700 vícolas que cultivam principalmente uvas cabernet sauvignon, chardonnay, pinot noir, zinfandel, syrah e merlot. Além da região de Santa Bárbara – que aparece no filme Sideways – pelo menos mais 8 regiões se dedicam quase que totalmente a vinicultura. São elas: Napa, Sonoma, Mendocino, Lake, Amador, Monterey, Santa Cruz e San Luis Obispo. Estas são as mais conhecidas, e entre elas, uma está em evidência nos dias de hoje. Trata-se da região de Napa Valley, a cerca de 1 hora de carro ao norte de San Francisco. É lá que fica o lugar que todo cinéfilo deve conhecer, gostando ou não de vinhos. Foi ali que o diretor Francis Ford Coppola, apaixonado pela bebida, comprou a sua própria vinícola, chamada inicialmente Niebaum-Coppola, hoje conhecida como Rubicon Estate. Coppola foi se aperfeiçoando e hoje goza de um certo prestígio, não só por ser a fazenda do premiado diretor de cinema Francis Ford Coppola, mas também pela qualidade de seus vinhos. A garrafa do Coppola Rubicon Estate, citado acima, custa cerca de R$ 850,00.


A Vinícola é aberta a visitação, e inclui um tour com direito a degustação de cinco tipos de vinhos. Lá, pode-se conhecer o chateau e um museu sobre a plantação. Mas, novamente para os cinéfilos, há uma grande surpresa. Existe, na vinícola, um espaço especialmente reservado para os Oscars que o diretor consquistou na carreira, além de ítens da trilogia O Poderoso Chefão, como a escrivaninha de Don “Marlon Brando” Corleone e o telefone de ouro, que aparece no segundo capítulo da saga, quando Al “Michael” Pacino está numa reunião com empresários em Cuba. Agora sim, uma bela desculpa para conhecer os famosos vinhedos de Napa Valley, além de degustar um bom vinho, claro. Se o fígado ainda permitir.

Sem comentários:

Enviar um comentário